Festivais Gil Vicente prolongam-se no tempo para reunir profissionais e amadores do teatro
A 32.ª edição deste evento de teatro em Guimarães mistura obras de encenadores como Pedro Gil e Monica Calle com uma mostra de teatro amador e um ciclo de peças criadas por alunos da Universidade do Minho. Festivais Gil Vicente vai assim estender-se de 30 de Maio a 16 de Junho, mais uma semana do que era habitual.
Junho foi o mês escolhido no final da década de 80 para Guimarães celebrar o teatro e a figura de Gil Vicente — a tradição local alega que o dramaturgo terá nascido na cidade —, mas o ano de 2019 assinala a reconfiguração do festival que então se criou: a obra Ensaio para uma cartografia, na qual Monica Calle tenta explorar as fronteiras entre o teatro e a dança, com 12 actrizes em palco sem qualquer experiência prévia na dança, vai ser apresentada, a 15 de Junho, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), tal como a adaptação de O Triunfo dos Porcos, de George Orwell, pelo grupo de teatro amador, Citânia, no dia 2 de Junho.
“Tenho uma visão descomplexada das fronteiras entre o amador e o profissional. É importante que o teatro se assuma como um espaço informal, para discussão livre”, explicou João Pedro Vaz, director artístico da Oficina, cooperativa municipal responsável pela cultura, que apresentou nesta segunda-feira a programação de Maio a Agosto.
O programador, Rui Torrinha, salientou, por seu turno, que a reconfiguração dos Festivais Gil Vicente avançou para explorar o “potencial escondido” do teatro que se faz em Guimarães e para fixar “conhecimento no território”. “O festival não pode ser apenas ponto de passagem e de mostra”, defendeu. “É preciso uma visão mais holística e universal do território”.
É precisamente pela mostra de amadores de teatro, realizada sempre no mês de Outubro até ao ano passado, que os Festivais Gil Vicente vão arrancar, com seis espectáculos a decorrerem entre 30 de Maio e 2 de Junho. A preparação das peças, acrescentou o responsável da Oficina, vai ser acompanhada pelos encenadores Gonçalo Fonseca e Nuno Preto.
O teatro amador dá posteriormente a vez aos alunos da licenciatura de Teatro da Universidade do Minho – vão apresentar cinco obras entre 5 e 14 de Junho – e às produções profissionais, que, nos anos anteriores, perfaziam exclusivamente o festival; o primeiro dos seis espectáculos do evento, agendado para o dia 6, é D. Juan Esfaqueado na Avenida da Liberdade, uma encenação de Pedro Gil que exibe uma faceta medrosa da personagem celebrizada por Molière, no século XVII. Nos dias 7 e 8, sobem ao palco do CCVF A Paisagem não responde, de Miguel Castro Caldas, a única estreia absoluta do festival, e Sequências narrativas completas, de João Sousa Cardoso, no dia 8.
De 13 a 15 de Junho, há tempo para a apresentação de A Praça, uma obra do Teatro Oficina que, segundo João Pedro Vaz, retrata uma “metáfora do encontro entre uma comunidade”, de Parlamento Elefante, encenação de Eduardo Molina, João Pedro Leal e Marco Mendonça que recebeu a primeira bolsa Amélia Rey Colaço, de apoio a novos criadores, e da obra de Monica Calle.
O programa do festival inclui ainda duas visitas performativas a espaços culturais da cidade: Do Avesso, nos bastidores do CCVF, com a encenadora Manuela Ferreira, no dia 8, e Ponto de Fuga, no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), com o encenador Nuno Preto.
Tiago Rodrigues em Maio
O teatro para os próximos quatro meses, em Guimarães, não se esgota com os Festivais Gil Vicente. O CCVF apresenta, já no próximo fim-de-semana, duas obras do encenador Tiago Rodrigues, director do Teatro Nacional D. Maria II e vencedor do Prémio Europa de Teatro – Novas Realidades Teatrais, em 2018. No sábado, 4 de Maio, o auditório vimaranense recebe Sopro, uma obra que versa sobre a fragilidade do actor com o recurso à ponto que ainda subsiste no teatro português, Cristina Vidal. No dia 5, é a vez de subir ao palco Como Ela Morre, uma co-produção do D. Maria II com o colectivo belga STAN inspirada em Anna Karenina, de Tolstói.