Moçambique: barragens no norte estão num nível “preocupante”

Chuvas do ciclone Kenneth põem as barragens sob pressão. Várias comunidades no distrito de Macomia e ilha de Ibo destruídas. Pelo menos cinco pessoas morreram no mais forte ciclone da história do país.

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Um barco arrastado pelo vento na praia de Wimbe, em Pemba MIKE HUTCHINGS/Reuters

Macomia, Quissanga e a ilha de Ibo são as zonas mais atingidas pelos ventos destrutivos do maior ciclone que tocou a costa moçambicana desde que há registos. No rasto de destruição, várias pequenas comunidades desapareceram do mapa e a baixa pressão deixada pelo Kenneth está a provocar fortes chuvas que ameaçam as barragens da província de Cabo Delgado. No município de Chiure, a sul de Pemba, caíram em 48 horas 223 mm de água e a chuva continuava forte no sábado.

“Visto desde cima, a situação na ilha de Ibo é bastante impressionante. Há comunidades inteiras completamente destruídas”, explica ao PÚBLICO Saviano Abreu do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), que gere todos os integrantes da ajuda humanitária em situações de emergência.

Saviano Abreu fez ontem um voo de reconhecimento desde Pemba até Mocimboa para uma primeira avaliação dos danos causados pelo ciclone e pode ver que, além do Ibo, Macomia e Quissanga foram as zonas mais afectadas, principalmente as duas primeiras.

“Há comunidades inteiras destruídas, pequenas comunidades de 20/30 casas. Contei pelo menos dez”, explica o representante do OCHA. De acordo com os números actualizados este sábado pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), 3700 casas foram totalmente destruídas, matando pelo menos cinco pessoas (que se juntam às três mortes que o Kenneth já tinha causado nas Comores).

“Este é o ciclone mais forte alguma vez registado em Moçambique”, em termos de velocidade do vento, refere Saviano Abreu. O vento chegou a atingir velocidades médias de 213 km/h e rajadas de 306 km/h, de acordo com o Centro de Ciclones Tropicais francês da ilha da Reunião, que segue a actividade de ciclones no sudoeste do Índico, e ainda não terminou de afectar o estado do tempo em Moçambique. As fortes chuvas associadas a este fenómeno climático “vão continuar e “podem causar inundações”.

Segundo o mesmo centro meteorológico francês, o Kenneth (ou ex-Kenneth como é denominado agora) seguia numa trajectória Oeste-Sudoeste, antes de dar uma grande volta, e não se sabe muito bem para onde seguirá o chamado “mínimo residual” a partir daí.

“Sob a influência de um dorsal subtropical que se está a formar na África Austral, poderá subir em direcção a Norte, antes de um hipotético regresso ao mar na próxima semana”, diz o boletim de análise e previsão de ciclones da Meteorologia Francesa.

No sábado, de acordo com Saviano Abreu, não se vislumbravam inundações na zona mais afectadas: “Vi rios mais cheios, mas não vi zonas inundadas. No entanto, é um risco”.

Para já o impacto não foi mais forte porque o Governo retirou 30 mil pessoas de áreas de risco e alojou-as em centros de acomodação. Foram criados 74 centros para a população afectada, sendo que este sábado já estavam activos 39, 11 deles em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, albergando mais de 18 mil pessoas.

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