Marcelo sobe a Grande Muralha e afirma que só o povo pode empurrar o Governo
O Presidente chegou nesta sexta-feira à República Popular da China.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou nesta sexta-feira que só o povo pode empurrar o Governo para cima ou para baixo, enquanto subia um pequeno troço reconstruído da Grande Muralha da China.
O chefe de Estado chegou nesta sexta-feira à República Popular da China, onde ficará seis dias, e começou simbolicamente a sua visita em Badaling, uma secção da Muralha da China que fica a cerca de 70 quilómetros para noroeste do centro de Pequim.
Marcelo Rebelo de Sousa, que nunca tinha estado nesta extensa fortificação, a maior do planeta, classificada em 1987 como património da humanidade e que começou a ser construída há mais de dois milénios, comentou: “É a primeira vez, mas é impressivo”.
O chefe de Estado evitou os milhares de turistas que enchem Badaling, pois teve a parte sul fechada para a sua comitiva, e enquanto começava o trajecto congratulou-se com o dia de sol: “Tinham-me prevenido para vir com sapatos para não deslizar, por causa da chuva”.
“Na descida é que é preciso cuidado. Sobretudo o Governo, para não cair, porque a queda do Governo dá sempre azo a interpretações”, observou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que seguia ao seu lado, divertido.
“Espero que o Presidente não empurre”, acrescentou a sorrir.
O Presidente não quis responder logo e disse que “na China só pensa na China” e que perante “estes milhares de quilómetros e milhares de anos” nem lhe ocorria esse assunto.
Continuando a subir, Augusto Santos Silva logo lembrou a famosa frase de Napoleão para as suas tropas perante as pirâmides do Egipto: “Quarenta séculos vos contemplam”.
Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa tinha tido tempo para pensar numa resposta: “Quem pode empurrar o Governo só pode ser o povo, para cima ou para baixo, em ano de eleições, não é o Presidente. Mas estamos quase a atingir o topo”.
No caminho, o Presidente da República manifestou-se impressionado com esta construção de defesa “em tudo, em dimensão, em significado, em história, em símbolo geoestratégico” e deixou uma mensagem mais séria, contra os muros e muralhas.
“Aquilo que vemos hoje no relacionamento universal, incluindo a China, é que fica a muralha como referência histórica, mas o espírito hoje não é de muralhas. É de abertura, é de colaboração, é de construção conjunta daquilo que é fundamental para o mundo, em todos os domínios”, defendeu.
Sobre a sua vinda à Grande Muralha como Presidente da República de Portugal, referiu: “Nunca sonhei tão alto na vida”.
Sempre à conversa com Augusto Santos Silva, com sucessivas declarações à comunicação social pelo meio, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a sua “inteligência, agudeza de espírito e sentido de oportunidade para falar do Governo português, mesmo na Muralha da China”.
“Até aqui o senhor ministro não esquece a campanha eleitoral em curso, é muito atento. Agora vamos até ao topo”, declarou, prosseguindo o percurso de cerca de 300 metros entre algumas torres de vigia desta secção da muralha, para depois voltar para trás.
Ao descer, o chefe de Estado recorreu ao ditado “todos os santos ajudam”, mas Augusto Santos preferiu outra versão: “Todos os entes ajudam, se não o professor Vital Moreira faz já um post”.
“Mas santos pode ser a família Santos, Santos Silva. Veja como eu já dei a volta em termos de não haver qualquer preocupação constitucional”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa, descendo em passo acelerado.