A resposta à pergunta do título é imediata e óbvia. Não apenas a liberdade daquela madrugada, mas mais do que a liberdade quando a liberdade de nada serve se não usada para libertar mentes de crenças e modos de vida.
Antes do 25 de Abril, a educação era um privilégio das classes dirigentes. E o povo, pá? O povo aprendia até à quarta classe e o trabalho infantil era norma num país tão subdesenvolvido como os do terceiro mundo, onde os senhores doutores e os engenheiros eram os pais e os filhos da minoria política dirigente.
Minoria essa alicerçada no trabalho de sol a sol de toda uma nação a troco de nada, quando muito um tecto, duas cadeiras e a cama no chão partilhada entre pais e filhos, a assinar de cruz e a dizer que sim ao senhor e ao prior, geração após geração sob o signo da ignorância e o medo do castigo eterno, prisioneiros da fome e do temor.
E ai de quem dissesse alguma coisa, ai de quem reclamasse, protestasse ou fugisse numa terra onde as prisões, a tortura e a morte não precisavam de se justificar.
Com o 25 de Abril veio a educação e o ensino até à universidade, universidade essa gratuita até aos anos 90. A educação foi o fim do medo, a descoberta da verdade, a exposição da mentira, o questionar da informação, duvidar das decisões, participar e sair à rua, expressar a nossa opinião, manifestar, aderir a greves, o poder escrever, provocar, desassossegar sem receio de represálias, da polícia ou o medo dos bufos ao virar da esquina, dentro de casa ou à mesa à hora de jantar.
Porque a educação é uma chatice para as chefias e classes governantes e não há nada pior do que um povo que escreve livros, que lê livros e viaja, curioso por querer saber mais, contactar com outras culturas e maneiras de ver o mundo, ansioso por viver mais e melhor, como se isso fosse possível — e é.
Por tudo isto, viva a liberdade, viva o 25 de Abril. A educação é para a vida e pela mesma perdemos conta ao sangue derramado, às mortes e execuções em Peniche, no Aljube, no Tarrafal.
Por isso, o ataque à escola pública, a delapidação da escola pública ao longo de anos e governos desde então, despida de meios, com uma classe docente dividida entre professores envelhecidos e precários, na esperança do retrocesso a outros tempos, quando a educação era o privilégio de meia dúzia, educados em casa ou em colégios particulares. E a universidade? É paga por quem pode, nem por isso por quem quer.
A educação não é um privilégio, é uma conquista de Abril, é um direito pelo qual lutamos em cada palavra, em cada casa e rua e os professores são a sua maior arma.
Sem educação não há liberdade. Sem educação não há resistência. Sem educação não há Abril, só esquecimento e um povo embrutecido entre a praia, futebol e centros comerciais.
Por isso continuamos a lutar e a repetir, ano após ano, antes do 25 de Abril, durante o 25 de Abril e depois do 25 de Abril, viva a liberdade, 25 de Abril sempre!