Mirian G. é o único nome desconhecido (e fictício) numa lista de cem nomes mais ou menos sonantes: as cem pessoas mais influentes do ano. Para a revista Time, Mirian, é um “ícone” — a mesma categoria que acolhe Taylor Swift, Michelle Obama, Spike Lee.
A migrante de 29 anos fugiu da violência governamental contra a população nas Honduras, com os respectivos documentos de identificação, e quando chegou aos Estados Unidos da América pediu asilo às autoridades da imigração. Mas não foi sozinha: com ela, levou o filho de um ano e meio. Quando a entrevista acabou, os agentes norte-americanos separaram-nos, sem que o filho percebesse o porquê, relatava, em Abril de 2018, uma notícia no blog da ACLU, a União Americana pelas Liberdades Civis. “Sem lhe dar um momento para o confortar ou dizer adeus, os agentes fecharam a porta e conduziram para longe.”
Só se voltaram a reunir dois meses e 11 dias depois. “Sou a prova de que existem pais legalmente à procura de asilo que estão a ser separados dos seus filhos, sem razão aparente”, escreveu a migrante, num artigo de opinião para a CNN, publicado em Julho de 2018.
Nesse mesmo ano, devido à política migratória de “zero tolerância” da administração Trump, depois revogada, 2700 crianças foram afastadas dos pais na fronteira dos EUA com o México. “Como esse número é tão insondavelmente grande, acho que ajuda focarmo-nos na história de uma mulher. Até uma só é esmagadora”, escreve Kumail Nanjiani, o comediante paquistanês e norte-americano responsável pelo perfil de Mirian, para a lista da Time.
Nanjiani foi um dos mais de 30 actores que, num vídeo de quatro minutos divulgado pela ACLU, leram uma carta escrita por Mirian. “Embora o meu caminho para me tornar um cidadão americano tenha sido difícil, assustador e, por vezes, desumanizador, não consigo sequer imaginar o que é que Mirian e outros como ela passaram”, escreve agora o artista. “Bem-vinda a casa, Mirian. Precisamos de ti.”