Encenador Peter Brook vence Prémio Princesa das Astúrias das Artes

O júri considerou que o fundador e director do Centro Internacional de Criação Teatral abriu “os horizontes à dramaturgia contemporânea”.

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Peter Brook LUSA/CLAUDIO ONORATI

O encenador britânico Peter Brook foi galardoado com o Prémio Princesa das Astúrias das Artes 2019, anunciou esta quarta-feira em Oviedo, Espanha, o júri responsável pela atribuição do galardão.

“Mestre de gerações e considerado como o melhor director teatral do século XX, Brook é um dos grandes renovadores das artes cénicas, com montagens de alto compromisso estético e social, tais como Marat-Sade e Mahabharata. Peter Brook abriu novos horizontes à dramaturgia contemporânea, contribuindo de forma decisiva para a troca de conhecimentos entre culturas tão diversas como as da Europa, África e Ásia. Brook continua a emocionar de forma intensa através de postas em cena de grande pureza e simplicidade, fiel ao seu conceito de ‘espaço vazio'”, escreve o júri na acta.  Convocado pela Fundação Princesa das Astúrias, o júri foi presidido por Miguel Zugaza Miranda e composto por José María Cano de Andrés, Maria de Corral López-Dóriga, Sérgio Gutiérrez Sánchez, José Lladó Fernández-Urrutia, Ara Malikian, Ricardo Martí Fluxá, José María Pou Serra, Sandra Rotondo Urcola, Benedetta Tagliabue, Aarón Zapico Braña e Catalina Luca de Tena e García-Conde, marquesa do Vale de Tena (secretária).

A candidatura ao prémio que tem um valor pecuniário de 50 mil euros foi proposta por Antonio Lucas, membro do júri do Prémio Princesa das Astúrias das Letras 2019.

Peter Brook nasceu em Londres, a 21 de Março de 1925, formou-se em Arte no Magdalen College de Oxford e fez as suas primeiras montagens — A máquina infernal (1945), de Jean Cocteau, King John (1945), de Shakespeare, e Vicious circle (1946), de Jean Paul Sartre — com apenas 20 anos de idade.

Entre 1947 e 1950, assumiu a liderança da Royal Opera House de Covent Garden (Londres), onde se destacou a sua produção da ópera de Strauss Salomé, com figurinos desenhados por Salvador Dalí, e em 1962 foi nomeado director do Royal Shakespeare Theatre (Stratford), teatro de que saiu em 1970, perante a proibição de trabalhar com atores internacionais e depois de ter apresentado as obras de Shakespeare com uma nova abordagem.

Em 1971, fixou residência em Paris e fundou o Centro Internacional de Investigação Teatral, actualmente designado Centro Internacional de Criação Teatral, do qual é director. Peter Brook dirigiu também, entre 1974 e 2010, o teatro parisiense Les Bouffes du Nord.

Peter Brook, que também dirigiu ópera e cinema, trabalhou em cenários de toda a Europa e em países como Índia, África do Sul e Irão, entre outros.

Das suas obras, que abarcam quase todos os estilos teatrais, destacam-se títulos como Medida por Medida (1950), A tempestade (1955) ou A visita (1958), além de Rei Lear (1962), The screens (1964), Marat-Sade (1964), Timon d’ Athènes (1974), A conferência dos pássaros (1976) e a ópera A tragédia de Cármen (1983). Em 1985, após dez anos de preparação, apresentou Mahabharata, uma montagem teatral de seis horas de duração.

Em 1989, a pretexto do Ano dos Direitos e Liberdades do Homem, estreou Levanta-te Albert!, um drama sobre a discriminação racial em África.

Entre os seus últimos trabalhos, contam-se Sizwe Banzi est mort (2007), Eleven and Twelve (2009), Warum Warum (2010), The Suit (2012), Battlefield (2015), The Prisoner (2018) e Why, que se estreará em Junho deste ano.

Brook é ainda autor de vários livros de crítica teatral traduzidos para várias línguas, incluindo The Empty Space (1968), que se tornou um texto fundamental sobre teatro moderno e publicado em mais de 15 idiomas, incluindo em Portugal, pela Orfeu Negro.

O galardoado também dirigiu vários filmes como O Senhor das Moscas (1963), Marat / Sade (1967), King Lear (1971), Swann in Love (1984) e The Mahabharata (1989), entre outros.

Cavaleiro da Legião de Honra da França e Comandante da Ordem do Império Britânico, Peter Brook é doutor honoris causa de várias universidades e membro honorário da Academia Americana de Artes e Ciências, entre outros.

Os Prémios Princesa das Astúrias destinam-se, de acordo com os Estatutos da Fundação, a premiar “o trabalho científico, técnico, cultural, social e humanitário” realizado por pessoas, instituições, grupos de pessoas ou instituições na cena internacional”.

De acordo com estes princípios, o Prémio Princesa das Astúrias das Artes será concedido pelo “trabalho de cultivo e melhoria de cinematografia, teatro, dança, música, fotografia, pintura, escultura, arquitectura e outras manifestações artísticas”. Nesta edição, foram apresentadas 40 candidaturas provenientes de 17 países. Este foi o primeiro dos oito prémios Princesa das Astúrias que se concedem este ano, em que se cumpre a sua 39.ª edição.