Os lasers mais potentes que se conhecem servem para tudo menos para destruir
O físico Gérard Mourou – laureado com o Nobel da Física em 2018 – esteve esta terça-feira no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
Nas mãos de um argumentista de “séries B”, disparar os lasers mais potentes que se conhecem contra detritos radioactivos seria receita para desastre, mas na verdade é das aplicações mais avançadas de uma tecnologia explicada esta quarta-feira em Lisboa pelo físico Gérard Mourou. O laureado com o Prémio Nobel da Física em 2018 falou no Pavilhão do Conhecimento para uma plateia composta maioritariamente por estudantes do ensino secundário.
Gérard Mourou aperfeiçoou nos anos 80, com a canadiana Donna Strickland – também premiada com o Nobel da Física em 2018 –, a técnica CPA (chirped pulse amplification), que permite concentrar um raio laser até ao ponto de exercer uma pressão tão forte numa área tão pequena que seria equivalente a equilibrar “dez milhões de torres Eiffel na ponta de um dedo”.
Na abertura da conferência – e antecipando perguntas da audiência sobre o potencial militar de lasers amplificados –, o francês indicou que esta tecnologia “não seria útil para destruir coisas”, justamente porque é tão precisa e a energia é produzida “num período de tempo tão curto” que o material não tem tempo de aquecer e destruir o que está à volta do ponto de impacto.
Gérard Mourou lembrou que foi em 1960 que o físico norte-americano Ted Maiman conseguiu pela primeira vez emitir “luz coerente” e que agora, 60 anos depois, os lasers actuais são um milhão de vezes mais poderosos. O processo envolve a emissão de uma onda ultracurta que é, através do uso de difractores, alargada para reduzir a intensidade máxima da onda. Isso permite que a onda seja filtrada por um amplificador e depois comprimida, o que aumenta muito a sua intensidade.
“[A onda ] é capaz de cortar material sem o danificar por ser um período tão curto”, tornando o laser tão eficaz e preciso que tem aplicação na medicina, seja para apontar a um tumor sem danificar o tecido saudável ou aplicar radioterapia sobre um cancro ao nível molecular, referiu o físico.
Outra das aplicações da tecnologia, a que Gérard Mourou elege como a mais importante, será o combate ao lixo radioactivo que resulta da produção de energia nuclear. Atingir os núcleos radioactivos com lasers faz com que se desagreguem (processo de fissão), reduzindo drasticamente a sua longevidade de milhões de anos.
Referindo-se às “28 mil toneladas” de lixo e sucata que giram em órbita terrestre devido à exploração espacial e lançamento de satélites, afirmou que lasers amplificados poderão ser apontados aos pedaços mais pequenos (por exemplo, do tamanho de um parafuso), fazendo-os desacelerar e possibilitando que caiam na atmosfera e se desintegrem inofensivamente.
Gérard Mourou estará ainda esta quarta-feira, às 16h, numa conferência no Instituto Superior Técnico (em Lisboa), e na sexta-feira, às 14h30, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.