Militantes do PCP de Viseu contestam direcção
Dizem que não foram ouvidos quanto à posição conjunta de 10 de Novembro de 2015 e sobre a decisão de apoiar o Governo de António Costa.
Militantes do PCP da Direcção da Organização Regional de Viseu (DORV) contestam as posições da direcção liderada pelo secretário-geral, Jerónimo de Sousa, sobre a denominada posição conjunta assinada a 10 de Novembro de 2015 entre os comunistas e o PS, que permitiu a chegada ao poder de António Costa e a manutenção do Governo durante a presente legislatura. Este descontentamento, bem como questões de funcionamento daquela organização dos comunistas viseenses, terá sido comunicada em carta à Comissão Central de Controlo do Comité Central, subscrita por cerca de 40 militantes.
“Os militantes não foram ouvidos no acordo do Governo, nem os de Viseu nem os de lado nenhum”, afirmou este domingo, ao PÚBLICO, um comunista daquele distrito que solicitou o anonimato. “Quando o Partido decidiu fazer um acordo de Governo com o PS e o Bloco de Esquerda, devia ter ouvido os militantes nas suas organizações regionais, onde há alguém que pertence ao Comité Central e que é estafeta dessa posição”, explica. “Isto não foi feito, o Partido passou por cima dos estatutos e dos militantes e sentimo-nos lesados”, destaca.
Na sua versão, também foram ultrapassadas as organizações regionais da Marinha Grande, Cascais, Alpiarça, Portimão, Silves e as próprias organizações regionais do Algarve ou de Aveiro. Afirma que, das 18 entidades regionais do PCP, boa parte tem uma visão crítica da política seguida nos últimos quatro anos que permitiu a sobrevivência da “geringonça”.
Confrontado com o relato feito ao PÚBLICO na edição deste domingo por dois elementos do Comité Central de que a reunião de 8 de Abril deste órgão foi pacífica, o interlocutor é duro na interpretação. “Só 10% do Comité Central é que fala, são funcionários do Partido que têm medo de perder o emprego, nós somos a maioria”, garante. “Não tenho nada contra o secretário-geral Jerónimo de Sousa, disse que o PS só não seria se Governo se não quisesse e o que deveria ter dito é que o PS só seria Governo se nós quiséssemos”, sublinhou. Este é, aliás, um dos pontos repetidos pelos críticos no blogue Que Fazer?
“Este apoio não deveria ter existido, a outra alternativa era ter havido novas eleições, a não ser que os militantes [do PCP] tivessem dito que sim, afinal o Partido tomou uma posição política importante sem nos ouvir”, repete. “Temos divergências históricas com o PS, a coisa começou logo mal” precisa. Quanto aos resultados da legislatura, que segundo a direcção comunista permitiu a recuperação de rendimentos, direitos e afastou a direita do poder, este militante do PCP considerou-os insuficientes, com consequências nefastas na mobilização partidária: “Não há ninguém para colar um mupi [outdoor], como vamos dar tudo nas eleições, como o Jerónimo pede, se fomos excluídos?”
“Esta é uma questão política”, assinala. “Somos um partido marxista-leninista e que não quer o poder pelo poder”, lembra. “O Partido não nos pode solicitar o apoio ao Governo e depois pedir manifestações contra o Governo, isso não faz sentido”, conclui.