A revolução nos transportes públicos de que o PSD não gosta
O novo modelo tarifário é mais justo, mais simples e, sobretudo, muito mais barato.
Iniciou-se este mês uma indispensável revolução na relação dos portugueses com os transportes públicos.
O diagnóstico está feito há muito e foi reforçado com dados mais recentes. O estudo da mobilidade realizado pelo INE para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto evidencia uma realidade preocupante. No Porto, 65% do total de viagens – ou seja, duas em cada três deslocações – são feitas com recurso a automóvel, ficando o transporte público com apenas 13% do total de pessoas que se deslocam.
Os efeitos desta epidemia do automóvel são dramáticos, no congestionamento do tráfego, na ocupação do espaço público das cidades e, sobretudo, na emissão de gases poluentes.
Há muitas razões para o uso excessivo do automóvel. A mais importante tem a ver com o custo da tarifa. Para muitas famílias, a utilização do carro tornava-se a opção mais racional do ponto de vista económico, já que o preço do transporte público desencorajava a sua utilização.
Esta é uma das limitações que se pretende agora resolver, dando às famílias uma opção mais acessível. O novo modelo tarifário é mais justo, mais simples e, sobretudo, muito mais barato. Na Área Metropolitana do Porto há duas tarifas: 30 euros para o passe municipal (alargado ainda a uma terceira zona num município vizinho) e 40 euros para o passe metropolitano, que abrange todos os 17 concelhos. Mantêm-se ainda os descontos sociais que já anteriormente vigoravam, que são praticados sobre o novo preço.
Os resultados preliminares confirmam o sucesso desta estratégia. Comparando períodos homólogos, até ao dia 7 de abril o número de carregamentos de passes aumentou 20%, de 146.735 para 176.623. Neste aumento do número de passes adquiridos, 4126 são novos clientes do sistema. Ao mesmo tempo, 21.522 pessoas migraram do passe Z2 ou Z3, mais limitado, para o passe metropolitano.
São resultados muito animadores, que vão adquirir ainda maior expressão com o alargamento do passe único a vários operadores privados ainda não abrangidos e com a inclusão da operação da CP no concelho de Paredes, mudanças que vão ocorrer nas próximas semanas.
Seguir-se-ão, nesta matéria, novas medidas. Passes gratuitos para as crianças com menos de 13 anos, a partir de 1 de setembro, e um passe família, com calendário a definir.
Ao mesmo tempo, o Governo e a Área Metropolitana estão a trabalhar na melhoria da rede e da fiabilidade do transporte público, esforço em que se inclui o lançamento de novas linhas de metro.
Não se entende, neste contexto, a oposição do PSD a estas medidas. Ela baseia-se, aliás, no desconhecimento. Ao agitar uma suposta discriminação entre os portugueses, o PSD mostra ignorar que só se pode atingir a equidade tratando de forma diferente aquilo que é diferente. A redução das tarifas tem um maior impacto, naturalmente, nas áreas metropolitanas, onde vivem mais pessoas e onde ocorrem a grande maioria das deslocações pendulares casa/trabalho ou casa/escola.
O PSD quer esconder que o mecanismo de financiamento decidido pelo Governo foi alargado a todo o país. Recomendo ao PSD que estude as medidas adotadas pela Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, com as quais têm muito a aprender: redução das tarifas nos concelhos da região, redução das tarifas nas deslocações para o Porto, criação de nova rede com destino ao Hospital de Penafiel e adoção de sistemas de transporte a pedido nas zonas rurais mais isoladas.
Em matéria de transporte público o PSD tem má consciência e péssimos resultados para apresentar. O governo PSD/CDS degradou brutalmente o transporte público, tentou privatizar a STCP, aumentou o preço dos bilhetes, conduzindo à perda de milhões de passageiros, e decidiu não proceder a nenhuma ampliação do metro do Porto.
O PSD não gosta da revolução em curso nos transportes públicos e percebe-se bem porquê. É que as medidas do Governo PS contrastam em absoluto com a política reacionária e anti transporte público do Governo anterior.
A favor da mobilidade dos portugueses, da economia do país, das finanças das famílias e da preservação do ambiente, devemos prosseguir neste caminho. Mesmo que isso incomode o PSD.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico