O piano, instrumento de percussão explicado às crianças

Miquel Bernat, Joana Gama e Luís Fernandes estreiam este sábado no Porto Textures & Lines, um espectáculo de percussão, electrónica e vídeo. Um dos ensaios foi dedicado aos alunos de uma escola de percussão de Gaia.

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Joana Gama explica o piano aos jovens estudantes Inês Fernandes
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Luís Fernandes explica o computador Inês Fernandes
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Miquel Bernat dirige o Drumming Inês Fernandes
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Textures & Lines tem vídeo de Pedro Maia Inês Fernandes
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Textures & Lines, depois do Rivoli, vai ao Teatro Viriato, em Viseu Inês Fernandes

Quando as luzes se apagaram, a silhueta de cinco músicos tocando sobre um fluxo de imagens abstractas no ecrã em fundo criava uma atmosfera que certamente era uma experiência nova para a maioria das mais de vinte crianças que tinham sido convidadas a assistir a uma aula diferente, na manhã de quinta-feira, no Rivoli.

O Francisco viu aí “uma trovoada”, o seu irmão gémeo, Guilherme, de 10 anos, juntou-se à conversa para explicar que aquela sucessão de sons e imagens lhe fizera pensar “numa tempestade”. Já a Marta, 11 anos, entreviu “a origem da vida e do mundo” nessa sequência de 15 minutos de um tema musical que faz parte de Textures & Lines, o novo espectáculo que o Drumming – Grupo de Percussão, de Miquel Bernat, e o duo Quest (Joana Gama e Luís Fernandes) estavam a ensaiar para a estreia, este sábado à noite (21h), no Teatro Municipal do Porto.

Francisco, Guilherme e Marta são alunos da turma de percussão da Academia de Música de Vilar do Paraíso (AMVP), em Vila Nova de Gaia, que foi convidada pela autarquia portuense, no âmbito do Paralelo (Programa de aproximação às artes performativas), para um ensaio ao vivo desta nova criação audiovisual.

“Tratou-se, de facto, de uma experiência visual e auditiva nova, que permitiu aos alunos perceberem uma outra abordagem dos instrumentos”, disse ao PÚBLICO, também no final do ensaio, Luís Arrigo, músico, compositor e professor na AMVP. “Eles puderam ver e ouvir tocar música improvisada mas que não parecia ser improvisada”, acrescentou este professor brasileiro radicado em Portugal há 17 anos, e que inclusivamente criou na escola de Gaia um grupo de percussão com o qual tem participado em vários concertos e festivais pelo país.

A música improvisada que não parecia sê-lo e a utilização do piano como um instrumento de percussão tratado de forma não usual constituíram, de facto, as surpresas maiores para os jovens espectadores, dos 8 aos 15 anos, que constituíam esta plateia especial no Rivoli.

Antes do ensaio, Miquel Bernat, Luís Fernandes (fundador dos Peixe:Avião) e a pianista Joana Gama explicaram aos pequenos alunos percussionistas aquilo a que iriam assistir. “É um espectáculo de música e vídeo feito com piano, percussão e electrónica”, começou o líder do Drumming, avisando para que não seria um concerto convencional. “Não tocamos de maneira muito clássica; queremos ir mais além da música que conhecemos, queremos explorar novos campos”.

O fundador dos Peixe:Avião tentou aproximar-se mais dos pequenos ouvintes: “Como não aprendi a tocar muito bem, optei por programar os sons que imagino em computador”, disse Luís Fernandes, remetendo para o final a explicação do funcionamento dessa máquina que no palco estava alinhada com uma marimba, um glockenspiel e três gongos, com o piano no lado oposto.

Os pequenos estudantes conheciam certamente cada um destes instrumentos; não estariam era à espera de verem/ouvirem um piano “tocado” como um normal instrumento de percussão, trocando as teclas pela exploração do seu interior, recorrendo a arcos de violino, correntes de autoclismo e e-bows, pequenas peças cujos raios laser criam campos magnéticos que fazem vibrar as cordas de forma algo aleatória e fantasmática. “Parece magia!”, comentava Bernat, enquanto Joana Gama – que actuara mais como percussionista do que como pianista – lhes explicava que “um piano é uma grande caixa-de-ressonância” cheia de potencialidades e surpresas.

Durante 15 minutos, os alunos que podem vir a ser percussionistas mostraram-se rendidos à sucessão de sons sobre as imagens que Pedro Maia enviara de Berlim, onde reside, para a criação de Textures & Lines – e que o próprio viria alinhar no Porto, no dia seguinte, para a estreia do espectáculo este sábado.

No final, o sintetizador modular, essa pequena caixa cheia de botões, exerceu um visível fascínio sobre os pequenos assistentes. Luís Fernandes mostrou-lhes como ela funciona, e como é “uma máquina mais divertida do que fácil de explicar”. A certa altura, de entre eles, um miúdo comenta: “Então, isto pode estragar toda a música!?”. “Sim, se cair nas mãos erradas”, responde o músico entre risos.

No tempo que mediou esse mini-concerto de ensaio e a estreia deste sábado, o quinteto de músicos (João Dias e João Miguel Braga Simões completavam a formação do Drumming), depois acompanhado por Pedro Maia, aperfeiçoou o alinhamento de Textures & Lines. Joana Gama avançou que, depois da estreia no Rivoli, o espectáculo será levado ao Teatro Viriato, em Viseu, no dia 30 de Maio. Seguir-se-á a gravação de um disco, que deverá ser a base para uma mais vasta digressão, nacional e internacional. “É importante que isto não morra aqui”, disse ao PÚBLICO a pianista, que ultimamente se tornou particularmente conhecida pelas suas interpretações de Erik SatieEu gosto muito do Senhor Satie é, de resto, o título de um espectáculo que Joana Gama dedicou ao público mais jovem.

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