EUA pedem extradição de Assange após detenção em Londres
Equador retirou asilo político, convidou a polícia britânica a entrar na embaixada e Assange foi “imediatamente detido”. EUA já enviaram ao Reino Unido um pedido de extradição relacionado com um crime informático supostamente cometido com Chelsea Manning.
O fundador do site de denúncias WikiLeaks, Julian Assange, foi detido esta quinta-feira pela polícia britânica na embaixada do Equador em Londres, onde estava refugiado desde Agosto de 2012.
Num comunicado, a Polícia Metropolitana de Londres disse que os agentes entraram na embaixada “a convite do embaixador, depois de o Governo do Equador ter retirado a concessão de asilo” ao australiano.
Assange foi detido por violação das condições de liberdade condicional. Segundo a Justiça britânica, o fundador da WikiLeaks violou essas condições ao refugiar-se na embaixada do Equador em 2012, quando as autoridades estavam ainda a analisar um pedido de extradição feito pela Suécia, numa investigação por suspeitas de agressão sexual.
Para além de ter sido detido por esse motivo, esta quinta-feira, a Scotland Yard avançou mais tarde que Assange teve uma segunda ordem de detenção, quando já estava fora da embaixada do Equador: um pedido foi feito pelas autoridades dos EUA, no âmbito de um processo de extradição por “conspiração” com Chelsea Manning – a antiga soldado que passou milhares de documentos à WikiLeaks, em 2010, sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão e trocas de correspondência entre embaixadas.
A relação de Assange com as autoridades do Equador desfez-se quando o Governo do país o acusou de divulgar informações sobre a vida pessoal do Presidente, Lenin Moreno – uma acusação que a WikiLeaks diz ter sido distorcida: a organização divulgou a existência de uma investigação sobre o Presidente, por corrupção, no Congresso equatoriano.
A WikiLeaks acusa o Governo do Equador de retirar o asilo político a Assange “em violação da lei internacional”. “O embaixador do Equador convidou a polícia britânica e ele foi imediatamente detido.” Julian Assange “não saiu pelo seu pé da embaixada”, disse a WikiLeaks na sua conta no Twitter.
Há uma semana, a WikiLeaks disse que foi avisada por uma fonte no Equador que Assange iria ser expulso da embaixada “numa questão de dias” e que o Governo equatoriano “já tinha um acordo com o Reino Unido para a sua detenção”.
A detenção de Assange foi comentada por outro denunciante em fuga dos EUA. No Twitter, o antigo agente da NSA Edward Snowden disse que a detenção de Assange “é um momento negro para a liberdade de imprensa”.
Extradição para os EUA?
Segundo o Presidente do Equador, o Reino Unido garantiu que Julian Assange não será extraditado para um país que aplique a pena de morte – o que, a ser verdade, excluiria a extradição para os EUA. Mas os advogados de Assange dizem que basta aos EUA garantirem ao Reino Unido que não vão aplicar a pena de morte para que o fundador da WikiLeaks seja extraditado – e condenado, possivelmente a uma pena até 45 anos de prisão.
“Em linha com o nosso forte compromisso com os direitos humanos e com a lei internacional, peço ao Reino Unido que garanta que Assange não seja extraditado para um país onde possa enfrentar a tortura ou a pena de morte”, disse Moreno num vídeo partilhado no Twitter.
“O Governo britânico confirmou esse compromisso por escrito, de acordo com as suas próprias leis”, declarou o Presidente do Equador.
É possível que Assange receba uma terceira ordem de detenção, da Suécia, relacionada com a investigação de agressão sexual naquele país, o que pode originar um segundo pedido de extradição.
Em fuga dos EUA
Assange refugiou-se na embaixada do Equador em Londres há quase sete anos, para escapar à extradição para a Suécia, onde as autoridades locais queriam questioná-lo no âmbito de uma investigação de agressão sexual.
Essa investigação foi mais tarde suspensa, por não ser possível notificar e ouvir Assange, mas o fundador da WikiLeaks continuou a recear ser extraditado para os EUA, onde estão abertas investigações sobre a sua organização – da divulgação de centenas de milhares de documentos confidenciais em 2010 ao seu papel na divulgação de emails do Partido Democrata nas eleições de 2016.
Visto por alguns como um herói, por expor alegados abusos de poder e em defesa da liberdade de expressão, Assange é tido por vários governos como um perigoso rebelde que tem tentado enfraquecer os EUA e os seus aliados numa campanha que o levou a aproximar-se da Rússia.