Sonda israelita falhou aterragem na Lua
Não correu bem: Israel queria tornar-se o quarto país a fazer uma alunagem, mas a missão falhou a poucos metros da superfície lunar.
Esteve perto, muito perto, mas a sonda israelita Beresheet não conseguiu aterrar com sucesso na Lua. Não foi desta que Israel se tornou o quarto país a aterrar no nosso satélite natural. Contudo, já faz parte dos países que orbitaram o nosso planeta. Esta é a primeira missão à Lua financiada por fundos privados.
“Não conseguimos, mas já é um grande feito. Escolhemos sonhar e não temos medo. A próxima [missão] será melhor. Aprendemos com esta e iremos conseguir”, disse Morris Kahn, presidente da organização SpaceIL, que, juntamente com a empresa Israel Aerospace Industries, construiu esta sonda. “Não conseguimos, mas tentaremos outra vez. Uma sonda aterrará na Lua, mas completa,” afirmou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que acabou de ser reeleito.
Tanto o presidente da SpaceIL como o primeiro-ministro israelita acompanharam no centro de controlo em Yehud, em Israel, o processo de aterragem. Segundo a equipa desta missão, a sonda teve uma série de problemas técnicos durante a descida até à superfície da Lua.
Durante a transmissão em directo (apenas com algumas frases em inglês), parecia estar tudo a correr bem e até foi apresentada uma selfie tirada pela sonda a 22 quilómetros da Lua. “Um pequeno país, sonhos enormes”, assim se lia nessa fotografia mesmo por baixo da bandeira de Israel com a Lua em pano de fundo.
Ao longo da travagem, ainda houve um aviso de um problema técnico, mas tudo parecia estar a encaminhar-se para a alunagem. Aliás, as milhares de pessoas que acompanharam a transmissão em directo podiam ir contando os metros que faltavam para a sonda alcançar a superfície da Lua.
Foi a poucos metros que se percebeu que o veículo espacial iria falhar a alunagem. “Perdemos a comunicação com a sonda”, avisou alguém. Ainda houve momentos de esperança (e nervosismo). Mas, momentos depois, percebeu-se que já não havia mesmo nada a fazer: a Beresheet não alunou com sucesso e despenhou-se na superfície da Lua.
Durante a sequência de alunagem (que durou cerca de 21 minutos), a sonda sofreu falhas periódicas de engenharia e comunicação, segundo a agência Reuters. “Parece que a uma falha na nossa unidade de medição inercial causou uma cadeia de incidentes nos sistemas electrónicos da sonda, o que interrompeu [a actividade] dos motores e fez com que falhássemos a missão”, disse à Reuters Opher Doron, director-geral da divisão de espaço da IAI. “Mas foi de longe a mais pequena e mais barata sonda a ir à Lua. Fez um percurso incrível e espero que tenhamos outra oportunidade.”
Ainda segundo o jornal espanhol El País, a equipa pensa que terá falhado algum dos dispositivos de desaceleração que permitiriam ao motor principal fazer uma descida controlada até à superfície do satélite. “Iremos investigar para compreender melhor o que aconteceu”, referiu ao El País Ido Anteby, director-geral da SpaceIL.
“A aterragem será extremamente desafiante”, tinha dito antes à BBC Morris Kahn. “Mas temos bons engenheiros e a sonda respondeu bem às nossas instruções nos últimos dois meses… Estou bastante confiante, mas um pouco nervoso.”
A Beresheet – palavra hebraica para “génese” – tentou alunar no Mar da Serenidade, localizado no hemisfério Norte da Lua. “Este sítio tem anomalias magnéticas, o que permitirá que um magnetómetro [aparelho que mede o campo magnético] faça medições para experiências científicas”, refere-se no site da missão israelita.
“Irá observar-se de muito perto o sítio da aterragem, o que ajudará a perceber como as medições magnéticas da Lua se encaixam na sua geologia e geografia, sendo isto muito importante para se compreender como a Lua se formou”, explicava ainda antes da alunagem à BBC Monica Grady, professora de ciências espaciais e planetárias da Universidade Aberta do Reino Unido.
A Beresheet partiu em direcção à Lua a 22 de Fevereiro a bordo de um foguetão Falcon 9 da empresa SpaceX (do multimilionário Elon Musk). Durante as últimas sete semanas, a sonda moveu-se em órbitas elípticas à volta da Terra até ser capturada pela gravidade da Lua e ter entrado em órbita do satélite natural da Terra na última semana (a 4 de Abril).
Com isso, Israel passou a integrar o grupo de países que conseguiram entrar em órbita da Lua. Antes, o nosso satélite natural já tinha sido orbitado por sondas de diferentes países: desde os Estados Unidos à China, passando ainda pela Europa (através da Agência Espacial Europeia, constituída por vários países, incluindo Portugal), até ao Japão e Índia.
Parece uma máquina de lavar
Com cerca de um metro e meio de altura, esta sonda tem 585 quilos. Tem as dimensões de uma máquina e lavar. A bordo da sonda vai uma “cápsula do tempo” com ficheiros digitais do tamanho de moedas, desenhos de crianças ou memórias dos sobreviventes do Holocausto.
Esta é a primeira missão à Lua financiada por fundos privados e custou 100 milhões de dólares (cerca de 88 milhões de euros). Só o multimilionário israelita Morris Kahn investiu 44 milhões de dólares (cerca de 38,8 milhões de euros) neste projecto e o casal multimilionário Miriam e Sheldon Adelson contribuiu com 24 milhões de dólares (21 milhões de euros).
Até agora, a Beresheet percorreu uma viagem de 6,5 milhões de quilómetros. Como não conseguiu cumprir o seu principal objectivo com sucesso, ainda não foi desta vez que Israel se tornou o quarto país a fazer uma alunagem. Este feito só foi concretizado até agora pelos Estados Unidos, pela antiga União Soviética e a China, que conseguiu que um veículo espacial aterrasse pela primeira vez no lado oculto do nosso satélite natural no início deste ano.
Agora, segundo frisa o jornal norte-americano The New York Times, também a NASA espera enviar equipamentos científicos em módulos espaciais comerciais para a Lua ainda este ano. A Administração de Donald Trump diz que também planeia enviar astronautas para a Lua em 2024. “A NASA ainda não estimou o custo de levar pessoas [à Lua] em tão pouco tempo e alguns membros do Congresso já questionaram o porquê desta correria”, lê-se no The New York Times.
Para este ano, ainda poderemos assistir ao lançamento e à alunagem do veículo espacial indiano Chandrayaan-2. A China também pretende lançar a sonda Chang’e-5 antes do fim do ano.