Viragem na austeridade não foi “drástica”, admite Mário Centeno
O ministro das Finanças afirmou ao Financial Times que não houve grandes mudanças face às políticas do anterior Governo e disse que bastaram pequenas alterações para “restaurar a confiança”.
O ministro das Finanças, Mário Centeno, reconheceu, em declarações ao Financial Times, que a trajectória escolhida pelo Governo socialista não representou uma alteração “drástica” face às políticas que estavam a ser implementadas pelo executivo de Pedro Passos Coelho.
“O próprio Centeno admite que o grau em que o PS reverteu a austeridade ‘não é drástico’”, lê-se numa reportagem publicada esta quarta-feira no Financial Times. O trabalho, que tem por título a interrogação “Portugal: um caminho europeu para sair da austeridade?”, recolhe os testemunhos de ex-políticos, académicos e especialistas em finanças públicas, do primeiro-ministro António Costa e do ministro das Finanças.
E Mário Centeno reconhece que, face a uma economia que estava a “desacelerar” em 2015, quando assumiu a pasta das Finanças, “era preciso fazer uma mudança, [mas] não uma grande mudança”.
“Sou muito desconfiado em relação aos visionários que acham que sabem o suficiente para mexer em grandes máquinas. Tenho medo de grandes máquinas”, disse o ministro ao jornal britânico. Foi a diminuição dos encargos com os juros da dívida que permitiu ao país ir além do esperado na redução do défice orçamental, explicou Mário Centeno.
O também presidente do Eurogrupo referiu que bastaram pequenas alterações de política para “restaurar a confiança e incentivar o crescimento”, escreve ainda o jornal: “O truque foi escolher um caminho a seguir e mantermo-nos nele”. O resultado desse compromisso foi “um salto tremendo na confiança [dos agentes económicos] e na actividade económica”, explicou o ministro das Finanças.
“As pessoas estavam muito cépticas em relação às nossas políticas económicas”, afirmou o primeiro-ministro ao Financial Times. “Nós mostrámos que é possível aumentar os rendimentos e o investimento privado, diminuir o desemprego e, mesmo assim, conseguir finanças públicas sólidas”, sustentou António Costa.
Para muitos na esquerda europeia, António Costa é o primeiro-ministro que mostrou que a crise financeira podia ser ultrapassada sem destruir emprego e rendimentos. Para outros, Costa teve a sorte de poder contar com a recuperação económica global, a queda dos preços do petróleo, o boom turístico e a queda acentuada dos encargos com dívida, que não seria possível sem a política de compras do Banco Central Europeu, refere ainda o artigo.
Segundo o Financial Times, o primeiro-ministro diz acreditar que toda a gente, incluindo a Comissão Europeia, aprendeu lições importantes com a crise da dívida: “Penso que agora temos um consenso forte, não apenas sobre regras comuns relativas ao défice e à dívida pública, mas sobre a importância do crescimento económico para reduzir o desemprego e aumentar os rendimentos para fortalecer a confiança”.
E “a confiança”, diz António Costa, “é o grande motor da recuperação económica”.