Os palestinianos são a grande questão ignorada da campanha

“É uma questão que vai definir Israel”, diz ao PÚBLICO Ronni Shaked, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Mas na campanha mal foi discutida, tirando a promessa de Netanyahu de anexar a Cisjordânia.

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MOHAMAD TOROKMAN/Reuters

A três dias das eleições, a questão invisível, o chamado “elefante na sala”, saiu para a ribalta: o conflito com os palestinianos, ou a ocupação dos territórios palestinianos.

Ronni Shaked, do Institute for the Advancement of Peace da Universidade Hebraica de Jerusalém, que fala ao PÚBLICO por telefone, está zangado. “Esta é a questão mais importante para Israel e está a ser ignorada”, queixa-se, a voz em crescendo. “Qualquer passo de hoje vai mudar Israel – não só a relação com os palestinianos, mas a própria existência do Estado. E, no entanto, as eleições vão ser decididas por questões de personalidade”, critica.

A questão palestiniana foi durante décadas tema central para qualquer político em Israel. Mas com a situação de segurança relativamente estável, os palestinianos tornaram-se praticamente invisíveis em Israel. Muitos israelitas nasceram já a ocupação da Cisjordânia e Gaza era uma realidade estabelecida. Ameaças crescentes como o Irão e o seu pé não só no Líbano, com o movimento xiita Hezbollah, mas na vizinha Síria, passaram para o primeiro lugar nas preocupações de segurança.

Há dias, as palavras de um porta-voz do Likud mostravam como a política preferida é a manutenção do statu quo, mesmo tentando ir acumulando vantagens (reconhecimento de Jerusalém como capital, por exemplo). “Somos contra a solução de um só Estado e a de dois Estados”, disse Eli Hazan. “Ambas podem resultar no fim de Israel como Estado judaico e democrático”, acrescentou.

Já o programa da aliança liderada pelo antigo chefe militar Benny Gantz tem algumas frases dedicadas aos palestinianos, prometendo “um horizonte aberto para um acordo político” e ainda trabalhar com os vizinhos árabes para “aprofundar a separação”.

Não faz, no entanto, qualquer menção a um futuro Estado palestiniano, e promete que Israel irá manter o controlo sobre partes da Cisjordânia e nunca dividirá Jerusalém – os palestinianos reivindicam a Cisjordânia e Jerusalém Oriental para um futuro Estado. “Não diz o suficiente”, é o veredicto de Shaked.

Netanyahu trouxe a questão para a campanha com a afirmação de que anexaria a Cisjordânia, mas, como diz Noa Landau, esta é uma promessa para levar com algum cepticismo: não com uma pitada de sal, como diz a expressão em inglês, mas com “um saleiro inteiro”. Netanyahu já bloqueou várias tentativas neste sentido dos seus parceiros de coligação.

Foi uma tentativa de Netanyahu para ganhar votos à direita – nas últimas eleições, fê-lo prometendo que não concordaria com um Estado palestiniano, uma promessa mais fácil de cumprir; desta vez, a promessa foi mais vaga.

“Por que o fez? Não foi para conseguir avançar num processo de paz”, comenta Shaked. “Porque se avançasse com a anexação podia dizer adeus à paz”, continua, cada vez mais zangado. “Porque iria conseguir um Estado binacional, que teria uma maioria de palestinianos relativamente depressa. Ninguém quer este Estado! Nem os israelitas, nem os palestinianos”, garante.

O jornalista Chemi Shalev também sublinhava no Ha’aretz que muitas sondagens mostram que uma maioria sólida de israelitas apoia uma solução de dois Estados, e apenas uma pequena minoria apoia a anexação da Cisjordânia.

O jornalista também acrescenta que a questão está a ser ignorada, mas não irá desaparecer. “A história mostra que períodos de relativa – muito relativa – paz e calma são sempre um prelúdio para explosões de violência e perdas significativas de vidas israelitas”.

É o que diz Shaked, que admite a sua “zanga e desilusão”: “Aconteça o que acontecer, vamos perder. Ainda não sabemos é como.”

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