Pestana Goldsmith: como uma casa debruada a filigrana
É um hotel de quatro estrelas que quer ser uma casa onde “as pessoas podem ser conhecidas pelo nome”. A filigrana é a inspiração, subtil, do novo Pestana Porto - Goldsmith. Em breve, terá um museu próprio; entretanto, há o rooftop que brinda o visitante com uma vista dourada dos Aliados.
Está no candeeiro dourado que pende junto à cama, está nos talheres e nos cestos do pequeno-almoço. Está nas grandes fotografias emolduradas, que recebem o visitante logo à entrada, e nos cocktails com que o brindam no bar. Vai estar, em todo o seu esplendor, no museu e na loja, assim que abram as suas portas. A filigrana é a inspiração do Pestana Porto - Goldsmith e está em todo o lado; mas, de tão subtil, de tão delicada, mal se vê. Antes debrua, orna e orla um hotel que se sente casa, onde se sente em casa. No Porto, claro está – a localização, bem como a arquitectura e o design de interiores não deixam margem para dúvidas.
A entrada é pelo número 14 da Rua do Almada, mas dos 43 quartos (todos eles com varanda e, no mínimo, duas janelas) também se podem vislumbrar a Torre dos Clérigos, o Largo dos Lóios ou a Avenida dos Aliados, menina dos olhos do rooftop bar. Aberto a 21 de Dezembro de 2018, o hotel desenrola-se num conjunto de cinco prédios do século XIX, classificados como Património Municipal – quem é da cidade dificilmente conseguirá dissociar este quarteirão da histórica Casa Navarro. E é fruto de uma parceria entre o grupo Pestana, responsável pela gestão do novo quatro estrelas, e a David Rosas, empresa fundada em 1860 uma referência nacional no segmento de luxo de jóias e de relógios. Daí a filigrana.
É o quarto hotel com assinatura do grupo hoteleiro português no Porto — ao primeiríssimo Pestana Vintage Porto, na Ribeira, somaram-se entretanto as unidades no Palácio do Freixo e n’A Brasileira, inaugurada há pouco mais de um ano. A caminho estão mais projectos, nomeadamente para a Rua das Flores e para o Freixo. Integrado na linha Hotels & Resorts, este Goldsmith (“ourives”, em inglês) recupera a história da família que o deu à luz. São cinco pisos de homenagem à tradicional filigrana portuguesa, sendo que no rés-do-chão, onde também se situa a recepção, irá nascer uma loja David Rosas, com cara voltada para os Aliados. Já o primeiro andar vai acolher por inteiro um museu dedicado a esta técnica de ourivesaria: vai chamar-se The House of Filigree (“A Casa da Filigrana”, em português) e, entre outras coisas, terá ourives a trabalhar ao vivo, numa oficina a cargo da quinta geração da família.
A gestão é separada, mas os conceitos completam-se. “Vai ser um hotel com um museu integrado”, diz, entusiasmada, Susana Costa, directora da unidade hoteleira, para quem este espaço expositivo, que, tal como a loja, deverá abrir portas em finais de Junho, pode piscar o olho ao turista estrangeiro, mas também ao público português. “Somos um bocado desconhecedores [desta arte] (…) Eu, pelo menos, associava muito a filigrana à religião, ao folclore, mas também está muito associada à natureza. E vemo-lo neste hotel.” Por exemplo, através das fotografias captadas por Inês d’Orey, que acompanham o visitante desde a recepção até aos quartos, ilustrando diferentes momentos da filigrana portuguesa, do Coração de Viana aos instrumentos usados para tecer estas intricadas redes de ouro. E também ao percorrer o seu interior, ao deslizar pelo verde-claro dos corredores e das portas, ao tactear as madeiras nobres e o mármore, de onde, com conta, peso e medida, ressaltam por vezes pequenos apontamentos dourados, para não nos esquecermos de onde estamos e para onde vamos.
Se a fachada se mantém imperturbável, com os seus azulejos amarelos e as varandinhas verdes de um Porto que é muito Porto, as entranhas do edifício sofreram uma profunda metamorfose, mas sempre com a “preocupação”, nas palavras de Susana Costa, de manter um ambiente de casa, de lar, de um Porto de outros tempos. Rodapés altos, maçanetas de madeira, interruptores pretos à antiga, portadas nas janelas e uma cortina branca. Responsabilidade de Luís Viana, autor do projecto de arquitectura e de decoração de interiores, que, indica a directora, quis “trazer um homefeel ao hotel”, “mantendo a tradição”: “É o que as pessoas sentem ao entrar: parece uma casa, parece o Porto que eu via na casa da minha bisavó.”
Um boutique hotel “clean e leve” que gosta de ser uma casa em que “as pessoas podem ser conhecidas pelo nome”. A lotação máxima é de 80 pessoas, distribuídas pelos 43 quartos, entre os quais alguns single (“Já não se vê tanto, mas a verdade é que hoje em dia há cada vez mais pessoas a viajar sozinhas”) e comunicantes. No quinto piso, há quartos com terraços privados: a suíte Filigrana, com 32 metros quadrados, grande parte deles exteriores, e três rooftop rooms, com cerca de 22 metros quadrados cada. A decoração é sóbria e elegante, com os tais toques de Midas, e, estando o vento de feição, as espreguiçadeiras convidam a uma paragem mais prolongada na varanda que se estende sob os Clérigos e os Aliados, entre os gritos das gaivotas e os soletos negros que cobrem a parede como escama. Só por isso já saberíamos: só podíamos estar no Porto.
Ali ao lado está o Auru Rooftop Bar, aberto ao público todos os dias das 11h às 23h, até à 1h à sexta e sábado, que, calma, também tem um espaço interior. Principal vocação: cocktails. Com vista aérea para os Aliados. O nome vem de aurum, a palavra latina para ouro, mas numa carta que remete para a tabela periódica é também a junção do símbolo químico do ouro (Au) com o do ruténio (Ru). Aqui, o alquimista de serviço é Tiago Moreira, responsável pelo bar RIB Beef & Wine do Pestana Vintage. Concebeu assim um relógio móvel, uma referência à joalharia, que indica o cocktail ideal para a hora em questão – tudo com nome de pedras preciosas. Às 21h, aconselha-se o Âmbar, com mezcal e amêndoa, enquanto às 14h o ponteiro aponta para o Safira, com pisco, banana e coco (cada um por nove euros).
A carta de bebidas é extensa, o que denuncia logo o propósito. “É um rooftop, é um bar, não é um restaurante”, avisa logo à partida Susana Costa. Há várias opções ligeiras, boas para partilhar até ao almoço, como sopa de tomate, manjericão e parmesão (4,50 euros), bacalhau frito com legumes de caril (11 euros), ravioli fresco com queijo ricotta e molho provençal (11 euros) ou frango piripíri (9 euros). É neste “espaço multifunções” em tons pastel, que também serve de zona de estar com uma luz perfeita para leituras relaxadas, que se serve o pequeno-almoço, comedido, mas não sovina. Funciona como uma espécie de mercado. Nas mesas há uma lista de compras a preencher por quem não tiver o pequeno almoço incluído (custa 13 euros para os não-clientes); no balcão há tabuletas a indicar as zonas da fruta, dos lacticínios, dos cereais, dos quentes (ovos e legumes) e da padaria. É só escolher e levar para a mesa, com os produtos na mão ou em pequenos cestos de compras. Feitos de cobre. Ri-se Susana: “Não podiam ser prateados.”
A Fugas esteve alojada a convite do Pestana Goldsmith