China e EUA tentam finalizar acordo comercial em Washington
Entendimento está mais próximo, mas a definição de regras que garantam a passagem à prática do acordo ainda continua a dividir os dois países.
O vice-presidente chinês Liu He chega esta quarta a Washington para uma nova ronda de negociações com altos responsáveis da Casa Branca, naquele que pode ser um encontro decisivo para a obtenção de um acordo comercial que possa ser assinado pelos presidentes dos dois países.
Numa altura em que se multiplicam os alertas contra o risco que uma guerra comercial representaria para a economia mundial, as questões mais difíceis de resolver entre os EUA e China continuam a ser qual o mecanismo de fiscalização do futuro acordo e quais as regras a aplicar na condução da política cambial e na protecção da propriedade intelectual.
Liu He irá encontrar-se durante esta semana com o secretário do Tesouro norte-americano Steven Mnuchin e com o representante do comércio Robert Lighthizer, numa continuação das reuniões realizadas na semana passada em Pequim.
Neste momento, as duas partes tentam transmitir a ideia de optimismo na possibilidade de concretização de um acordo. Do lado chinês, têm mesmo vindo a ser tornadas públicas algumas concessões, tendo Pequim, por exemplo, assumido o compromisso de aumentar o volume de compras de alguns produtos norte-americanos, como soja ou carne de porco. O objectivo assumido será, de acordo com vários meios de comunicação social, a eliminação do actual défice comercial dos EUA face à China até 2024 (precisamente o ano em que terminaria um segundo mandato de Donald Trump, caso este vença as próximas eleições).
No entanto, são ainda importantes as questões em que um acordo entre as duas partes se está a revelar mais difícil. Em primeiro lugar, a Casa Branca pretende manter um certo nível de ameaça sobre a China, como forma de garantir que aquilo que ficar definido no acordo é efectivamente passado à prática. Mas os dirigentes chineses têm manifestado o seu descontentamento face à proposta americana de criação de mecanismos de vigilância apertados sobre a China, que retirariam liberdade ao país na condução das suas políticas, por exemplo a cambial.
De acordo com o Financial Times, aquilo que falta para se assinar um acordo é, neste momento, um entendimento final em relação ao que acontece às actuais taxas alfandegárias – que foram agravadas - e no que diz respeito às regras que ficarão definidas para garantir o cumprimento do acordo – com os EUA a quererem ter a possibilidade de, em caso de violação, subir taxas sem retaliação.
Este encontro acontece numa fase em que os dirigentes dos dois países tentam, já depois de ter sido adiado o fim da trégua assinada em Dezembro, criar as condições para que Donald Trump e Xi Jinpeng se encontrem para assinar um acordo que colocaria, pelo menos para já, um ponto final na guerra comercial iniciada com a chegada de Trump à Casa Branca.
De fora, têm surgido esta semana diversos alertas em relação às consequências para a economia mundial de um falhanço nas negociações. Esta terça-feira, a Organização Mundial do Comércio (OMC) reviu em baixa a sua estimativa de crescimento das trocas comerciais no mundo este ano, passando a apontar para uma variação de 2,6%, quando antes antecipava 3,7%.
“Com uma tensão tão alta nas relações comerciais, ninguém pode ficar surpreendido com estas previsões”, afirmou o director geral da OMC, Roberto Azevedo, defendendo que “é cada vez mais urgente que se resolvam as tensões e se defina um caminho positivo para o comércio mundial”, num apelo claro ao entendimento entre EUA e China.
Também esta terça-feira, a directora geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde alertou para a situação frágil em que se encontra a economia mundial, reafirmando que um cenário de agravamento das taxas alfandegárias teria um impacto muito negativo nas taxas de crescimento na generalidade dos países.