As palavras e as moléculas de um livro infantil
A menina subiu a rua de volta à casa com o livro que ainda hoje sabe de cor: A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner. Descobriu as praias, o polvo e o caranguejo, as anémonas e os peixes, a saudade e a alegria da amizade. Nesse Verão, todos os dias tiveram história para contar.
Do era uma vez, aos perlimpimpins, dos planetas fantásticos à cabaça cabacinha... Quantas páginas cheias de vida encheram a vossa infância? Costumo ir dizendo que vejo a vida em palavras e moléculas, mas se pensar bem o tal fascínio pela descoberta e pelas moléculas começou ali mesmo — nas histórias, nos livros. Esta terça-feira, 2 de Abril, que é o Dia Internacional do Livro Infantil tento lembrar-me das descobertas que fiz (e ainda faço) em cada página lida.
É quase universal, todos nós temos um livro, ou livros que nos marcaram a infância. Qual aquele livro que lemos vezes e vezes sem fim? Qual aquela história que sabemos de cor como acaba e como começa? Qual aquele personagem heróico, ou nem tanto, que ainda hoje nos fascina?
Podia contar-vos qual livro que me marcou, a história que sei de cor, a personagem heróica que me fascina mas também vos podia contar uma história que tem tanto de palavras como talvez de moléculas.
Sim, podia contar-vos a história da menina e do seu Verão na biblioteca. Eram as “férias grandes” e, dia após dia, descia a rua da vila até aquela que era quase como uma segunda casa. Entrava pé ante pé para não quebrar qualquer silêncio, mas sempre com uma enorme vontade explorar as estantes tão altas quanto a sua ânsia de descobrir as páginas de cada um dos livros.
Sabia que só podia levar três livros para ler em casa e até que havia alguns tão especiais que tinham de ser lidos ali. A escolha era sempre difícil, mas as mãos nunca iam a abanar. Aliás, iam sempre cheias de sonhos, histórias (e moléculas) nos livros que levava.
Quando chegou o último dia das “férias grandes”, a menina sabia que tinha de escolher muito bem o livro para ler. Decidiu, por isso, pedir ajuda a Dona Cristina, que rapidamente lhe entregou com o seu sorriso de sempre o eleito.
A menina subiu a rua de volta à casa com o livro que ainda hoje sabe de cor: A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner. Descobriu as praias, o polvo e o caranguejo, as anémonas e os peixes, a saudade e a alegria da amizade.
Nesse Verão, todos os dias tiveram história para contar. Entre ilustrações e parágrafos fantásticos, a menina descobriu o mundo. Descobriu os mares e os planetas, os peixes e as flores e aprendeu como podia explorar da mais ínfima célula até à maior estrela.
Essa menina agora cresceu e vê a vida com palavras e moléculas. Cresceu a explorar o mundo, como quem explora livros. No fundo, é a história da menina que se fascinou por moléculas pela construção que fazem do mundo, tal e qual como as palavras e as histórias foram construindo o mundo dela.
Podia contar todas essas histórias, ou então, posso só voltar a perguntar: qual o livro que vos marcou? E qual a história desse menino ou menina que o leu e se fascinou?
No final, seja qual for a história, espero que todas as palavras e moléculas que presentes num livro nos tornem mais leitores e mais exploradores de páginas e, acima de tudo, mais leitores e exploradores do mundo.