Bouteflika sai “até 28 de Abril”, mas os protestos vão continuar

Agência de notícias estatal diz que o Presidente vai resignar “antes do final do seu mandato”, a 28 de Abril. No domingo, Bouteflika fez uma profunda remodelação no Governo e manteve-se como ministro da Defesa.

Manifestação em Argel, na sexta-feira
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Manifestação em Argel, na sexta-feira Reuters/RAMZI BOUDINA
Bouteflika e Salah, o chefe do Estado-maior das Forças Armadas
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Bouteflika e Salah, o chefe do Estado-maior das Forças Armadas Reuters/Ramzi Boudina

Ao fim de quase dois meses de protestos nas ruas de Argel e outras cidades argelinas, o Presidente Abdelaziz Bouteflika está prestes a anunciar a sua demissão. No domingo, o chefe de Estado remodelou o Governo, mas os manifestantes pedem a sua saída imediata e exigem mudanças profundas no país.

A notícia do afastamento iminente do Presidente argelino foi avançada no domingo à noite pelo canal Ennahar TV, que aponta terça-feira como a data do anúncio. Esta segunda-feira, a agência estatal APS disse que Bouteflika vai resignar “até ao fim do seu mandato”, a 28 de Abril – um anúncio que não deverá sossegar os manifestantes, que exigem a saída imediata do Presidente argelino.

No domingo, Bouteflika substituiu 21 dos 27 ministros, mas manteve como vice-ministro da Defesa o chefe do Estado-maior das Forças Armadas, o general Ahmed Gaed Salah.

A continuidade de Salah no Governo é um sinal político importante. Na semana passada, o general apelou à saída do Presidente, ao abrigo do artigo 102 da Constituição argelina que prevê o afastamento por incapacidade – Bouteflika, de 82 anos, sofreu um AVC há seis anos, que o deixou numa cadeira de rodas e incapaz de falar.

A onda de protestos na Argélia começou em Fevereiro, quando Bouteflika indicou que iria candidatar-se a um quinto mandato presidencial nas eleições de 18 de Abril.

A pressão nas ruas contra essa decisão deu resultados há três semanas, quando Bouteflika anunciou que, afinal, não iria recandidatar-se. Em vez disso, adiou as eleições de 18 de Abril até que uma “comissão nacional inclusiva” apresente ao país uma proposta para uma nova Constituição.

Nas ruas, os manifestantes responderam com o reforço dos seus protestos pela saída do Presidente, acusando-o de querer manter-se ainda mais tempo no poder e de insistir em controlar a transição política.

Na semana passada, Bouteflika perdeu o decisivo apoio dos militares, com o apelo do chefe do Estado-maior à sua resignação ou afastamento – um passo que, segundo o canal argelino Ennahar TV, poderá ser dado esta terça-feira. A agência APS diz apenas que o anúncio vai ser feito até 28 de Abril.

Antes disso, no domingo, o Presidente argelino mudou o seu Governo de alto a baixo, no que parece ser uma derradeira tentativa de manter alguma influência sobre o esperado processo de transição – Bouteflika mantém-se no cargo de ministro da Defesa.

Se o Presidente argelino resignar com base no artigo 102 – ou se for afastado pelo mesmo motivo –, o cargo será exercido pelo líder do Conselho da Nação (a câmara alta do Congresso). Mas nem isso deverá ser suficiente para acalmar os protestos – o actual líder do Conselho da Nação, Abdelkader Bensalah, é repudiado por todos os sectores.

Os manifestantes exigem a saída imediata de Bouteflika e o fim da sua presidência de 20 anos; o recuo dos militares para um papel de observador no processo de transição; e a realização de uma consulta popular sobre o futuro do país, com base no artigo 7 da Constituição, segundo o qual “o poder pertence ao povo” e pode ser exercido “através de referendo”.

Na mais recente manifestação semanal no país, na sexta-feira, via-se um cartaz com a frase “O número que marcou, o 102, está incorrecto. Por favor, ligue para o 07”, num sinal de que os manifestantes não se contentam apenas com a saída de cena de Abdelaziz Bouteflika.

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