Theresa May resiste, mas a rebelião em Westminster prossegue

Deputados britânicos testam esta quarta-feira se alguma alternativa ao plano do Governo para o "Brexit" consegue alcançar uma maioria no Parlamento.

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Protesto anti-Brexit frente ao Parlamento em Londres ANDY RAIN/EPA

A três dias da data originalmente fixada para a saída do Reino Unido da União Europeia com a aplicação do artigo 50º. do Tratado Europeu, os britânicos continuam sem saber que tipo de “Brexit” os espera. Entre a opção hard de um divórcio litigioso, ou a escolha soft de um relacionamento tão próximo quanto uma união de facto, todas as hipóteses continuam em cima da mesa, incluindo — por absurdo que pareça — a possibilidade de revogação da decisão do referendo de 2016 e a permanência do país no clube europeu.

Depois de perder o controlo sobre o processo legislativo do “Brexit” no Parlamento, a primeira-ministra corre o risco de perder definitivamente a autoridade e legitimidade politica para negociar a sua proposta. Nada indica que os deputados estejam dispostos a ceder ao Governo a iniciativa política que conquistaram à custa de mais uma humilhação de May. Mas ela ainda não desistiu de submeter o acordo de saída que negociou com Bruxelas a um terceiro “meaningful vote” que evite o salto do Reino Unido no abismo a 12 de Abril.

Esta quarta-feira, o Parlamento vai levar a cabo uma série de votos indicativos (não vinculativos), num exercício político para aferir o apetite da câmara por opções alternativas ao plano da primeira-ministra para a ligação com a UE após o “Brexit”. Uma hipótese é a chamada Noruega +, que prevê a manutenção do Reino Unido no mercado único europeu; outra é a de uma união aduaneira. Em teoria, a oposição trabalhista poderia conviver bem com qualquer uma destas opções.

Nada obriga May a trocar o seu acordo para o “Brexit” pela proposta com mais votos na Câmara dos Comuns: a primeira-ministra, que tem resistido a todos os golpes na sua luta pela sobrevivência, fez saber que ignoraria qualquer posição que desrespeitasse o manifesto que o Partido Conservador levou às eleições de 2017.

Antes da votação, vai reunir com o influente comité 1922 da bancada conservadora, constituído pelos deputados que não detêm cargos no Governo e que em Dezembro desafiaram a sua liderança. May ultrapassou o voto de desconfiança dos tories, e ainda derrotou uma segunda tentativa do Labour, que avançou a sua própria moção de censura para forçar a demissão. Mas não se pode dizer que tenha saído fortalecida dessas batalhas.

Os media britânicos especulavam que poderia prometer aos eurocépticos a demissão, em troca da aprovação do seu acordo. Até ao momento, a rebelião em Westminster não a levou a excluir a hipótese de um “Brexit” sem acordo — ou por acidente, ou por opção dos legisladores. Mas o seu argumento de que é preferível o no-deal a um mau acordo terá deixado alguns dos mais ferozes Brexiteers desconfiados, como Michael Fabricant, que foi ao Twitter dar conta do seu receio. “Porque poderei votar a favor do acordo de saída desta vez? Para evitar uma alternativa pior, que seria não haver ‘Brexit’ nenhum”, justificou.

Como a divisão entre as diferentes facções dentro do Parlamento se mantém, pode acontecer que nenhuma das opções alternativas recolha um apoio tão substancial que se destaque como a preferência dos legisladores — um segundo round está já agendado para segunda-feira, numa nova votação que ser ainda mais controversa se levantar o tabu de um segundo referendo para desfazer o impasse.

No mesmo dia será discutida uma petição para a revogação do artigo 50º. que já recolheu mais de 5,8 milhões de assinaturas. Esta terça-feira, o Governo rejeitou o pedido, e publicou uma declaração a reafirmar o respeito pelo resultado do referendo. 

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