Líderes europeus exigem a Xi Jinping mais acesso ao mercado chinês
Num encontro no Palácio do Eliseu, em Paris, os líderes de França, Alemanha e União Europeia disseram ao Presidente chinês que todos têm "mais a ganhar com a abertura do que com o fecho de portas".
Poucos dias depois de a Itália ter assinado um importante acordo com a China, que causou mal-estar entre os parceiros da União Europeia, o Presidente francês preparou uma despedida especial para o terceiro e último dia da visita do Presidente chinês a França, esta terça-feira. Durante uma reunião no Palácio do Eliseu, para a qual foram convidados Jean-Claude Juncker e Angela Merkel, Emmanuel Macron disse a Xi Jinping que é preciso equilibrar as relações comerciais entre a Europa e a China.
“Temos de mostrar, através de acções, que a cooperação é melhor do que o confronto, e que temos mais a ganhar com a abertura do que com o fecho de portas”, disse o Presidente francês.
O incómodo dos principais líderes da União Europeia com a vontade de países como a Itália de se aproximarem da China à margem de uma política comum, que salvaguarde os interesses do bloco europeu, tem causado tensão entre Bruxelas e Pequim.
No sábado, o Governo italiano assinou um memorando de entendimento com a China para fazer parte do plano conhecido como uma Nova Rota da Seda – uma iniciativa do Presidente Xi Jinping, lançada em 2013, para ligar a China à Ásia Central, Europa e África através da construção e renovação de portos, estradas e outras infra-estruturas.
O acordo entre Roma e Pequim é simbólico, porque não obriga nenhuma das partes a irem além das declarações de interesses comuns, mas é visto como um importante passo para legitimar a estratégia de expansão chinesa ao mais alto nível.
Apesar de outros países, como Portugal, terem vários acordos bilaterais significativos com a China, a Itália é o primeiro país ocidental – e o primeiro do grupo dos sete mais industrializados do mundo (G7) – a fazer parte da Nova Rota da Seda, que os críticos vêem como um plano chinês para cimentar a sua influência no mundo e deixar vários países dependentes dos empréstimos e da dívida à China.
O acordo entre Itália e a China não é consensual no Governo de Roma. O vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio, do partido anti-sistema 5 Estrelas, defende a aproximação à China; mas o outro vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, do partido de extrema-direita Liga, afirma que a Itália vai ser “colonizada”.
Mas o aperto económico de Itália e as promessas dos partidos do Governo, que implicam gastos públicos elevados, deixam o país mais receptivo às promessas de financiamento e investimento chinês – ainda que a decisão de integrar a Nova Rota da Seda seja única na Europa.
Na segunda-feira, a França assinou com a China vários acordos multimilionários, apesar das desavenças de fundo sobre a estratégia de expansão chinesa – só num desses acordos, para a compra de 300 aviões Airbus, uma empresa chinesa vai pagar 30 mil milhões de euros.
Xi tranquiliza Macron
No encontro no Eliseu, Xi Jinping tentou tranquilizar os líderes europeus, dizendo que as duas partes devem “aumentar a energia positiva”.
“A cooperação é melhor do que a competição”, disse o Presidente chinês. “Não devíamos estar sempre preocupados a olhar por cima do ombro, com suspeitas, à medida que avançamos.”
Em causa estão os efeitos do novo modelo político e económico chinês, liderado pelo Presidente Xi, que passa por um reforço do controlo do Estado em todos os sectores, incluindo nas empresas privadas.
É essa estratégia que explica, por exemplo, a tensão entre a Huawei e os EUA e os apelos norte-americanos para que a União Europeia não trabalhe com empresas tecnológicas chinesas na expansão da rede 5G – segundo Washington, as infra-estruturas de comunicação europeias, desde as redes de telemóveis, aos sensores, passando pela orientação de veículos sem condutores, ficariam à mercê da espionagem e da ameaça de ataques da China.
Os líderes europeus acusam Pequim de dificultar a entrada das suas empresas na China, muitas vezes obrigando-as a divulgar segredos comerciais, enquanto a Europa tem uma política mais aberta.
“Como europeus, queremos ter um papel activo [na nova rota da seda]”, disse Angela Merkel, no final do encontro em Paris. “Mas isso tem de levar-nos a uma certa reciprocidade, e ainda estamos na fase de discussões”, admitiu a chanceler alemã.