Armazenamentos de água nas bacias portuguesas são “francamente inferiores” aos de 2018

Espanha está a cumprir os limites acordados quanto aos caudais, mas a seca que se faz sentir nos dois países está a ter consequências bem visíveis no volume de água armazenada nas bacias hidrográficas. Governo diz que “acompanha diariamente o que se passa no rio Tejo".

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O rio Tejo, na região espanhola de Cuenca, em 2017, reduzido a quase nada pela seca e o desvio de águas para a agricultura Nuno Ferreira Santos

A seca que está a afectar a Península Ibérica está a ter consequências bem visíveis nas bacias hidrográficas nacionais que têm, neste momento, armazenamentos “francamente inferiores” aos de 2018, segundo dados enviados ao PÚBLICO pelo Ministério do Ambiente e da Transição Energética (MATE). No rio Tejo, a albufeira de Alcântara, em Espanha, tem um volume total armazenado de 58%, o que é inferior aos dois anos anteriores.

A situação do Tejo foi divulgada esta segunda-feira pela TSF, que apontando dados oficiais, indica que “a água que chegou desde Janeiro à Barragem do Fratel, a primeira do lado português, é menos de metade do que aconteceu nos mesmos meses de 2017 e 2018, anos que já tinham sido de pouca água”. O rio nunca teve caudais tão baixos, segundo a rádio.

Ao PÚBLICO, fonte do MATE confirma os dados revelados pela TSF, ressalvando que, ainda assim, “os caudais mínimos semanais” acordados com Espanha estão a ser cumpridos. Segundo a informação disponibilizada pelo ministério liderado por Matos Fernandes, a barragem do Fratel, a primeira do Tejo do lado português, teve durante o mês de Março o volume mais baixo do ano, com uma redução drástica que, no sábado passado, se situava apenas nos 9,2 hm3 (o volume mínimo a cumprir é 7 hm3).

O problema é da falta de chuva que já levou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera a colocar 57% do território do continente em seca moderada, 38% em seca fraca e 5% em seca severa. E em Espanha a situação é ainda pior, especifica o MATE em resposta escrita: “Em 2019 os valores de precipitação na bacia portuguesa correspondem a menos de 50% do valor normal. Na bacia espanhola a situação é mais gravosa do que aquela que se verificou em 2017 e 2018, aliás os níveis e armazenamento na albufeira de Alcântara neste mês de Março são os mais baixos, quando comparados com os anos anteriores.”

As consequências fazem-se sentir dos dois lados da fronteira e não apenas no Tejo. Segundo os dados do MATE, também a bacia do Douro apresenta neste mês de Março um volume armazenado de 62,9%, bastante inferior aos 83,9% que tinha no mesmo mês do ano passado e ainda inferior aos 66,4% de Março de 2017. O Guadiana, com 76,4% de armazenamento, também apresenta o valor mais baixo dos últimos três anos no mês de Março, o mesmo acontecendo, a Norte, com a bacia do rio Lima (63,8%).

Tejo acompanhado diariamente

Abaixo dos 60% do volume armazenado estão, segundo os dados do MATE, as bacias do Oeste (56%), Sado (47,2%), Mira (58,3%), Barlavento (59,8%) e Arade (59,5%). Dados que levam o MATE a referir, por escrito, que “comparando a situação do mês de Março, nas bacias portugueses, em 2019 os valores de armazenamento total são francamente inferiores aos observados em 2018.”

O MATE garante ainda que “acompanha diariamente o que se passa no rio Tejo ao mesmo tempo que acompanha os efeitos da fraca precipitação que tem ocorrido neste período.”

Na semana passada, depois de uma reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, foi anunciado que o Governo pré-contratou camiões-cisterna para responder à eventual necessidade de abastecer aglomerados urbanos que estão dependentes de captações subterrâneas.

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