Itália quer entrar na Nova Rota da Seda de Xi Jinping e a UE preocupa-se
Presidente chinês assina acordo em Roma, interessado nos portos italianos, quando a União Europeia tenta formalizar uma posição mais firme em relação a Pequim.
Itália quer tornar-se o primeiro país do grupo dos sete mais industrializados (G7) a juntar-se ao projecto da Nova Rota da Seda, com o qual a China pretende construir uma rede global de comércio ligando a Ásia, o Médio Oriente, a África e a Europa através de infra-estruturas como portos, auto-estradas, túneis e ferrovias.
Os portos das cidades de Trieste (Nordeste) e Génova (Noroeste) podem vir as ser os maiores beneficiários de investimentos chineses, e a Pequim agrada a possibilidade de ter grande controlo sobre dois novos portos europeus, depois do Pireu, em Atenas.
Durante a visita do Presidente chinês Xi Jinping a Itália, que chega esta quinta-feira, o Governo de Roma, formado pela coligação de extrema-direita da Liga de Matteo Salvini e do Movimento 5 Estrelas (M5S, partido anti-sistema) de Luigi di Maio espera assinar um memorando de entendimento para isso. Embora o documento não seja vinculativo, vai no sentido contrário da posição mais recuada em relação à China que os líderes da UE estão neste momento a discutir na reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas, para assumir na cimeira UE-China de 9 de Abril.
“Tem sido extremamente difícil para a UE formular uma estratégia clara em relação à China. Documentos de estratégia elaborados anteriormente não têm sido coerentes”, comentou à Reuters Duncan Freeman, do Centro de Investigação UE-China do Colégio da Europa. “Agora está a ver-se um esforço claro para que haja essa coerência.”
Enquanto a União Europeia é o maior parceiro comercial da China – as trocas bilaterais valem mil milhões de euros por dia –, a China é o segundo maior mercado de bens e serviços para a UE, logo a seguir aos EUA. Enquanto os países do Norte da Europa reagem com maior desconfiança em relação ao projecto da Rota da Seda, e às restrições ao comércio que continuam a vigorar no mercado chinês, os do Sul, como Portugal têm-se mostrado muito mais abertos.
Itália está a apostar fortemente no interesse chinês, com o discurso de que está a “criar as suas próprias oportunidades”.
“Penso que é uma oportunidade para as nossas empresas aproveitarem da importância crescente da China no mundo”, afirmou o subsecretário de Estado do Comércio e Investimento, Michele Geraci. “Sentimos que, entre os nossos parceiros europeus, a Itália foi posta de parte. Perdemos um pouco de tempo”, justificou, em declarações à BBC.
“Muitos países da UE já têm grandes acordos comerciais com a China, portanto esta discussão parece-me um pouco hipócrita”, disse Manlio Di Stefano, subsecretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e membro do M5S, citado pelo Guardian.
Mas esta posição pró-China do M5S não coincide com a do seu parceiro de coligação, a Liga, que tem sublinhado que é preciso garantir que qualquer acordo terá de garantir os interesses italianos. Por outro lado, Itália submeteu-se à pressão dos Estados Unidos e baniu a chinesa Huawei da construção da sua rede de telefonia móvel 5G.
Na UE, teme-se que o acordo de Roma com Pequim acicate divisões entre os Estados-membros devido a opiniões diferentes sobre a expansão da China e da sua economia pelo mundo.
A Nova Rota da Seda, bem como a cooperação chinesa pelo mundo, tem sido criticada por beneficiar sobretudo as empresas chinesas envolvidas, e criar o que se define como “armadilhas de dívida” nos países mais pobres: concede empréstimos para equilibrar orçamentos e para obras e infra-estruturas mas a troco da concessão da exploração de recursos naturais, como aconteceu na América Latina e em África, por exemplo.