Videoclipe
O Carlão é mesmo bom. Ou não?
Esta galeria é uma parceria com o portal Videoclipe.pt, sendo a seleção e os textos dos responsáveis do projeto.
A crónica de Hilário Amorim: Videoclipe, o herói improvável
Há um ponto em que nós, VIDEOCLIPE.PT, insistimos nesta curadoria no P3, para que melhor se entenda o videoclipe enquanto género audiovisual no atual ecossistema comunicativo da Internet: os videoclipes performativos, com o músico ou vocalista a interpretar, cantar ou “rappar”. Porque estes tenderão a ser hoje mais difundidos, ou seja, partilhados, quanto mais fugirem do convencionalismo da mera atuação dos músicos: no fundo, quanto mais surpreenderem, mais partilhados serão. E um bom exemplo é o vídeo de Entretenimento — tema título (fora o ponto de interrogação) do álbum que Carlão tem vindo a promover desde 2018, como nos habituou, com bons videoclipes. Porque se hoje a música se consome em grande medida através dos vídeos, estes são (como já aqui dissemos) o seu “verdadeiro palco atual”. A música faz-se comunicar por eles e leva à cena muita da sua expressão e significação. E, claro, o entretenimento, pois a música, muito ou pouco, sempre o teve e terá.
A surpresa acima referida começa por, nos primeiros 40 segundos, nos fazer questionar: será o Carlão a interpretar? O vídeo agarra logo a atenção de qualquer um, mais que não seja pelo forte impacto da figura e do seu visual inesperado, esse rapper histrião a exibir com pleno gozo um atrevido tom sardónico. Mas o mais importante é isso fazer sentido com a letra. Parabéns, portanto, ao realizador, o Fernando Mamede.
Sendo o Carlão conotado com as linguagens do hip hop, seria lógica a expetativa da convenção: rapper a exibir os trejeitos e as marcas do género. Mas se a larga maioria se limita a seguir e copiar as referências americanas, o Carlão procura o que um artista musical deveria tentar atingir: criar uma identidade própria e pensar (ou fazer-nos pensar) o nosso mundo. Uma identidade construída na diversidade de referências, como o álbum evidencia. Na capa, as várias imagens dão logo sinal da temática das letras e da diversidade de estilos; pelo menos, o evoluir de uma instrumentação digital do seu álbum anterior para uma onde também pontuam as guitarras. Acima de tudo, neste tema de groove funkeiro, continua a demonstrar uma grande capacidade de escrita ao fazer uma ponderação pessoal sobre o seu ofício. Pode não ter ainda atingido a excelência, mas nem a sua música nem os seus videoclipes conseguem baixar à mediania. E, já agora, justiça seja feita também à própria Krypton Films no seu ramo.
Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.