À boleia da greve estudantil, Governo lança campanha nas escolas sobre a floresta
Um vídeo e especialistas vão alimentar o debate sobre a floresta nas escolas. Na apresentação da campanha, governantes não deixaram de ouvir críticas dos alunos: "O Governo não está a fazer o que poderia fazer, acho que ainda há espaço para fazer muito mais coisas e para corrigir erros do passado."
O Governo vai promover debates numa centena de escolas, de Norte a Sul do país, para sensibilizar e informar os alunos sobre os assuntos da floresta. A Greve Climática Estudantil, realizada na sexta-feira, deu uma boleia à campanha institucional a favor do ambiente que arrancou nesta terça-feira. “A escola é o sítio onde nós procuramos a provocação, e aquilo que encontrámos aqui [Loulé] foi a provocação”, disse o secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, perante vários jovens da Escola Secundária de Loulé.
A partir de um filme produzido pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), os estudantes são desafiados a discutir a floresta e os valores que nela residem. Num primeiro momento estarão envolvidas directamente uma centena de escolas, com participação de “embaixadores” do ICNF, mas a ideia é fazer multiplicar os debates pelos restantes 800 estabelecimentos e agrupamentos.
As imagens do vídeo que servirá de base às sessões correm em ritmo acelerado, em sintonia com os “nativos digitais”, os mesmos que saíram para a rua a protestar contra as alterações climáticas, pedindo a descarbonização e exigindo medidas ao Governo. Há quatro protagonistas – um mocho, uma cabra ibérica, um lince e uma águia. Os estudantes são convidados a entrarem num jogo interactivo, onde os animais são associados a qualidades dos humanos: sabedoria, determinação, garra e confiança. No final, em função das respostas, o estudante tanto se pode sentir identificado, com o mocho, com águia ou com outro dos animais.
Na apresentação do projecto esteve, além de Miguel Freitas, o secretário de Estado da Educação, João Costa. O debate teve algumas surpresas. “O Governo não está a fazer o que poderia fazer, acho que ainda há espaço para fazer muito mais coisas e para corrigir erros do passado”, afirmou Pedro de Sá, um estudante que relatou a sua experiência nos fogos do Verão passado. “Na altura, vivia perto da área de Monchique, e ninguém sabia onde estava incêndio – a página online da Protecção Civil não informava”, criticou.
O governante anunciou que serão abertos mais 4200 quilómetros de caminhos na serra, para facilitar o acesso dos meios de combate aos fogos e criar barreiras à progressão das chamas. A iniciativa foi contestada por um estudante do 11.º ano: “Promove-se a desflorestação e estamos a destruir os habitats dos animais, o que vai causar grandes desequilíbrios.”
Matilde Alvim, uma das estudantes que protagoniza, em Portugal, o movimento global de jovens para lutar contra as alterações climáticas, foi a convidada de honra para apresentação deste do filme. “Temos de pôr as mãos na massa”, afirmou a aluna da Escola Secundária de Palmela, pedindo aos colegas de Loulé para que participem nas várias iniciativas que se vão seguir, tendo como bandeira as questões ambientais. “Desenganem-se os que que pensam que os jovens estão adormecidos”, desafiou.
Pedro de Sá elogiou a iniciativa governamental, com sentido crítico. “Acho que é importante para nós nos questionarmos sobre as coisas, e não engolirmos o que nos dizem sem responder”, afirmou aos jornalistas à margem do encontro.
Por fim, Miguel Freitas anunciou que está previsto, para o próximo mês de Maio, em Albergaria-a-Velha, uma “expo-floresta” e um acampamento, constituindo o arranque da grande campanha nacional de vigilância das matas. O secretário de Estado da Educação rematou: “Dizer que queremos proteger a floresta todos dizemos.” O que falta é “participar no debate público informadamente, esse é outro nível de discussão” e é o que se pretende para os jovens.