Marisa critica as “asas” de Centeno no Eurogrupo, as que a “geringonça” cortou

Marisa Matias acrescenta que “há uma contradição profunda, e provavelmente insanável, entre o Mário Centeno ministro das Finanças, que tem de responder a um acordo parlamentar, e o Mário Centeno presidente do Eurogrupo”.

Foto
Marisa Matias é a cabeça de lista do Bloco às europeias LUSA/JOSE SENA GOULÃO

A eurodeputada Marisa Matias, e cabeça de lista às eleições europeias pelo Bloco de Esquerda, não poupa críticas ao ministro das Finanças pelo papel desempenhado como presidente do Eurogrupo: “Centeno à frente do Eurogrupo tem tido espaço para dar asas ao que teria sido o seu verdadeiro programa económico em Portugal se não houvesse a ‘geringonça’. Provavelmente, está mais confortável como presidente do Eurogrupo do que como ministro das Finanças, onde está condicionado pelo programa resultante do acordo parlamentar”, diz a bloquista numa entrevista ao Negócios, publicada nesta terça-feira.

Marisa Matias acrescenta ainda que “há uma contradição profunda, e provavelmente insanável, entre o Mário Centeno ministro das Finanças, que tem de responder a um acordo parlamentar, e o Mário Centeno presidente do Eurogrupo”.

Na entrevista, a eurodeputada considera que, nesta legislatura, “foi por se ter confrontado Bruxelas que se conseguiu alguma coisa”. E que “estes anos mostraram que teria sido muito melhor não ratificar o Tratado Orçamental”.

Sobre a dívida, Marisa Matias insiste que o Bloco de Esquerda defende “uma solução multilateral”, ou seja, “um acordo para uma renegociação multilateral das dívidas públicas” – o acordo seria, assim, feito no quadro europeu e não com Portugal a avançar sozinho, impondo essa reestruturação.

“Muito mais de metade dos países da zona euro tem dívidas acima dos 60% inscritos no Tratado Orçamental e isso mostra que há um problema de fundo e que alguma coisa não está a funcionar. A dívida não é só resultado do que nos tentaram convencer – padrões de consumo individuais ou com investimento público –, é sobretudo resultado de factores de dependência externa de Portugal”, argumenta Marisa Matias que entende ser “inevitável” que a União Europeia avance nesse sentido.

“É insustentável manter estes níveis de divergência macroeconómica. Nos últimos 20 anos, e com as fragilidades da arquitectura do euro, essa fragilidade agravou-se. Se não começarmos a dirigir-nos aos problemas essenciais, eles caem-nos em cima. O que parece impossível num dado momento torna-se inevitável no momento a seguir”, defende.

Marisa Matias insiste no confronto com Bruxelas: “Se tivéssemos feito tudo o que Bruxelas tentou impor não teria havido aumento do salário mínimo, porque nos três primeiros anos quiseram recusar. Nem teria havido nenhuma reposição dos salários ou das pensões. Teríamos continuado numa lógica de cortes, com sanções por incumprimento do défice quando este já estava abaixo dos 3%. A regra da União Europeia é a que está escrita, mas é também a da discricionariedade”, diz. A eurodeputada garante: “Há sempre margem para enfrentar e para conseguir coisas diferentes. A prova disso, ainda que de maneira limitada, foi o que aconteceu nos últimos anos.”

Sugerir correcção
Comentar