Estudo indica que relógios da Apple podem identificar problemas de coração
A Apple colaborou com a Universidade de Stanford, nos EUA, para perceber o sucesso dos seus relógios inteligentes em fazer exames ao coração. Num estudo com 400 mil pessoas, cerca de 2000 foram notificados de um batimento cardíaco irregular.
Os relógios inteligentes da Apple foram capazes de detectar correctamente irregularidades no batimento cardíaco de centenas de utilizadores – uma situação que podia evoluir para problemas de insuficiência cardíaca –, embora também tenham dado origem a vários falsos alarmes. A informação faz parte das conclusões preliminares de um estudo realizado pela equipa de cardiologia da Universidade de Stanford, nos EUA, que acompanhou 419.297 mil utilizadores de vários relógios da Apple ao longo de oito meses. Foi financiado pela empresa.
O objectivo era perceber se os aparelhos inteligentes da empresa, capazes de medir a pulsação através de um pequeno sensor óptico e transmitir a informação para uma aplicação móvel, conseguem detectar problemas no batimento cardíaco com precisão, ou se diagnósticos incorrectos ou precipitados são um problema prevalente. Nos EUA, a tecnologia da Apple tem o selo de aprovação da FDA, a entidade que regula o uso de dispositivos médicos.
Ao longo da análise, cerca de 2000 participantes (0,5% da amostra) foram notificados de um batimento cardíaco irregular pelos seus relógios. Após o alerta inicial, foram monitorizados ao longo de uma semana através de vários eléctrodos colados no corpo. Um terço registou outros episódios de fribrilhação auricular através dos eléctrodos: trata-se do tipo de arritmia cardíaca mais comum, que leva o coração a bater de forma descoordenada.
“Os nossos resultados têm o potencial de ajudar pacientes e profissionais de saúde a perceber como é que dispositivos como o Apple Watch podem ser usados para detectar condições como fibrilação auricular”, explicou em comunicado Mintu Turakhia, professor de Medicina Cardiovascular na Universidade de Stanford.
O mais recente relógio inteligente da Apple, o Apple Watch 4 – que além de um sensor, vem com dois eléctrodos para fazer um electrocardiograma básico – não fez parte do estudo porque foi lançado depois de a investigação começar.
“A vantagem de uma aplicação que utiliza informação de um sensor óptico é que está a procurar informação sobre pulsação irregular várias vezes ao dia, sem precisar que um utilizador interaja activamente com a aplicação”, explicou Marco Perez, outro investigador do estudo, numa apresentação da metodologia em Novembro.
Falsos alarmes
Nas conclusões, a equipa destaca o facto de menos de 1% dos participantes terem sido alertados para problemas. A possibilidade destes dispositivos inteligentes aumentarem a ansiedade dos utilizadores, com diagnósticos precipitados que as pessoas não sabem interpretar, é uma preocupação partilhada por vários profissionais de saúde. Particularmente, no caso do Apple Watch 4, que não fez parte do estudo de Stanford.
Para a equipa de Stanford, porém, perceber a taxa de erro destes aparelhos pode ser importante para os médicos saberem como utilizar correctamente a informação. Os autores do estudo argumentam que a fribrilhação auricular não diagnosticada pode evoluir para problemas de insuficiência cardíaca, uma condição em que o coração é incapaz de bombear sangue em quantidades suficientes para dar resposta a todas as necessidades do corpo.
É algo que alguns especialistas contestam. “A fibrilhação auricular é uma causa muito comum de ritmo cardíaco irregular, e um dos factores de risco mais importantes em AVC”, explicou ao PÚBLICO Atul Gupta, director do centro de tecnologia médica da Philips nos EUA, aquando o lançamento do mais recente relógio inteligente da Apple. Para o especialista, a taxas de erro acima de 20% ainda são muito significativas. “Qual é o custo financeiro e emocional para os milhões de pessoas a correr para os serviços de emergência ou médicos de família para mais testes desnecessariamente?”
A saúde é uma área em que a Apple quer continuar a investir em força. Em Janeiro, o presidente executivo da Apple, Tim Cook, disse numa entrevista à CNBC que a grande contribuição da sua empresa para o mundo seria na área da saúde. E embora a Apple não divulgue o número preciso de relógios inteligentes que vende (nos resultados da empresa, está incluído na categoria de “outros produtos”), Cook diz que as receitas são mais altas que as do iPod no auge da sua popularidade.