A nova Fórmula 1 é um regresso ao passado
A temporada 2019 começa neste domingo, na Austrália. Nesta madrugada já houve motores “a roncar”, nos treinos-livres de Melbourne, com a Ferrari “à caça” e Hamilton como “presa”.
Começa neste fim-de-semana, na Austrália, a temporada 2019 da Fórmula 1. A competição mais afamada do desporto motorizado tem, este ano, uma aura saudosista, já que várias mudanças significam um regresso ao passado.
Primeiro, e provavelmente mais importante, porque a F1 quer, em 2019, regressar aos tempos das “1001 ultrapassagens”. As alterações aerodinâmicas no perfil das asas dianteira e traseira deverão aumentar o efeito da potência extra do DRS e, por extensão, facilitar as ultrapassagens. Espera-se, portanto, mais emoção, numa categoria que, para muitos, perdeu espectacularidade na última década.
Segundo, por voltarmos a ver e ouvir um nome que esteve perto de desaparecer: Robert Kubica sofreu, em 2011, um acidente de rali que quase lhe tirou a vida, mas está de volta à Fórmula 1. Oito anos depois, guiará um, presumivelmente, pouco competitivo Williams.
Terceiro, pelo retorno de uma equipa histórica. A Alfa Romeo – cujos carros, em tempos, foram acelerados pelos pés de Fangio, Niki Lauda ou Farina – assume, em 2019, o nome da Sauber, equipa que estava no Mundial desde 1993.
Quarto, pelo regresso de Kimi Raikkonen aos seus “tempos de menino”. A Ferrari dispensou o finlandês, que se juntou precisamente à ex-Sauber, agora Alfa Romeo. Foi pela Sauber que se estreou, em 2001, ano em que, com Nick Heidfeld, levou a equipa ao quarto lugar do Mundial de construtores, a melhor classificação de sempre.
A chave para derrubar o campeão
Em 2019, o actual campeão viverá algo inédito: Lewis Hamilton chega a esta temporada com mais um título no bolso, o quinto, algo que o faz, pela primeira vez, iniciar a temporada como o piloto mais bem-sucedido do pelotão.
Para interromperem o domínio do inglês, as restantes equipas apostaram na táctica de “baralhar cartas”. Apenas duas formações mantêm os dois pilotos de 2018 – Mercedes e Haas mantiveram, respectivamente, as duplas Hamilton/Bottas e Grosjean/Magnussen –, sendo que, em matéria de presumível luta pelo campeonato, as principais alterações aconteceram na Ferrari e na Red-Bull.
Os italianos dispensaram Raikkonen, chamando o monegasco Charles Leclerc, enquanto Daniel Ricciardo foi “atrás do motor”. A Red-Bull decidiu trocar os motores Renault por motores Honda, e o piloto australiano, na equipa desde 2014, optou por juntar-se… à Renault. Com isso, Max Verstappen, apontado como um dos maiores talentos da F1, será, definitivamente, o “ponta-de-lança” da Red-Bull, após a troca de um conceituado Ricciardo por um menos experiente Pierre Gasly.
O outro grande destaque, em matéria de pilotos, é a saída de Fernando Alonso. O ex-campeão, na F1 desde 2001, já não correrá em 2019, mas, para minimizar as “saudades”, o substituto será o também espanhol Carlos Sainz Jr. 2019 terá, ainda, a estreia de quatro rookies: George Russell (Williams), Lando Norris (McLaren), Alexander Albon (Toro Rosso) e Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo).
Os testes de pré-temporada evidenciaram uma Ferrari forte e, para muitos especialistas, favorita a conquistar um título que lhes escapa desde a conquista de Raikkonen, em 2011. Vettel e Leclerc, o primeiro e terceiro mais fortes nos testes de pré-época, fizeram tempos que impressionaram toda a gente (até Hamilton) menos o chefe da Red-Bull. Christian Horner foi cáustico: “Se houvesse um Mundial de pré-temporada na F1, a Ferrari ganharia todos os anos. Mas ninguém dá pontos pelos testes de Inverno”.
Resta a Hamilton e Bottas, de Mercedes “na mão”, contrariarem as já tradicionais boas indicações iniciais dos Ferrari e a Verstappen, como “chefe” da Red-Bull, deixar de “comer na mesa dos miúdos” e “sentar-se na mesa dos “adultos”.
Perguntas e respostas
Para além da já abordada alteração nas asas dos monolugares, a Fórmula 1 traz, para 2019, algumas mudanças importantes.
1- Continua o controlo apertado ao peso dos pilotos?
Não. Pelo menos, não tão apertado. 2019 trará aquilo a que se pode chamar “liberdade para comer”, havendo menor importância dada ao corpo dos pilotos. A pesagem após as corridas será feita aos pilotos e aos carros de forma separada, algo que permitirá aos “craques” variarem mais o seu peso, sem medo de prejudicarem a pesagem conjunta no final das corridas. Além disso, promoverá uma maior igualdade entre pilotos, reduzindo a vantagem que os naturalmente mais baixos e leves tinham por comparação com os mais altos e pesados.
2- Para quando o regresso ao “ponto extra” de 1959?
Para agora. A “pedido de muitas famílias”, a FIA decidiu voltar a dar um ponto ao piloto que fizer a volta mais rápida da corrida, algo que tinha sido extinto em 1959. Para evitar que pilotos na cauda do pelotão e fora dos pontos coloquem pneus novos só para poderem fazer uma volta rápida, este ponto extra só será atribuído caso o piloto mais rápido termine a corrida nos dez primeiros lugares.
3- Mantém-se a confusão com os nomes dos pneus?
Não. A pedido da FIA e em nome da melhor compreensão dos espectadores, a Pirelli, fornecedora dos pneus para a F1, alterou a denominação dada aos compostos. Assim, em vez de gamas de pneus “duros”, “macios”, “supermacios” ou “ultramacios”, o nome dos pneus será definido para os três tipos disponíveis em cada corrida: um será o “duro”, outro o “médio” e outro o “macio”. Simples e sem complicar.
4- E os capacetes?
Os capacetes serão melhores. Em nome do aumento da segurança, os capacetes serão sujeitos a testes mais “apertados”, garantindo que as protecções absorvem e deflectem melhor os impactos e que se torna mais difícil objectos penetrarem o capacete.
5- Mantém-se o “árbitro” das corridas?
Não. Charlie Whiting, no cargo de director de corrida desde 1997, faleceu nesta quinta-feira, aos 66 anos, vítima de uma embolia pulmonar. A FIA ainda não anunciou o substituto definitivo.
6- O que há de novo no calendário?
Após várias discussões, o Grande Prémio da China, em Shangai, foi confirmado como terceira prova da temporada e, por extensão, será lá que se correrá o 1000.º Grande Prémio da história da Fórmula 1. O restante calendário não traz alterações significativas. A temporada começa na Austrália, neste fim-de-semana, e termina em Abu Dhabi, a 1 de Dezembro.