Lista do PSD aprovada por larga maioria, Rio ignora Maduro
Líder da distrital de Lisboa forçou votação secreta. PSD-Açores ameaça não fazer campanha
Foi já por volta das duas da madrugada que os conselheiros nacionais do PSD aprovaram, por larga maioria (70 votos a favor e sete contra, o que representa 91% a favor), a lista de candidatos às europeias que é totalmente paritária e é liderada por Paulo Rangel. A votação foi secreta, depois do líder da distrital de Lisboa, Pedro Pinto, ter apresentado um requerimento nesse sentido e de não ter desistido apesar de Rui Rio lhe ter pedido para recuar. Agora, na direcção já há quem admita alterar o regulamento para impor as votações de braço no ar, num conselho nacional extraordinário. Nos discursos, Rui Rio falou, ainda que brevemente dos primeiros candidatos da lista, mas ignorou o último: o ex-ministro Miguel Poiares Maduro vai no 29º lugar como apoio “simbólico”.
Já com a tensão a antever-se na aprovação das listas para as legislativas, Pedro Pinto forçou, com um requerimento que veio a ser considerado potestativo (obrigatório), a votação secreta da lista de candidatos ao Parlamento Europeu. Uma posição que reflecte o conflito interno de Janeiro passado quando o líder da distrital de Lisboa liderou um movimento para que a votação da moção de confiança fosse feita de forma secreta e não de braço no ar.
Entretanto, o secretário-geral do PSD, José Silvano, afirmou que a direcção vai “tentar clarificar” o regulamento interno do Conselho Nacional do partido, de forma a esclarecer o método de votação de listas. “A CPN acolheu bem e, nos próximos tempos, tentará uma clarificação no regulamento interno, em articulação com o Conselho de Jurisdição”, assegurou o secretário-geral do PSD.
Em declarações à Lusa, José Silvano salientou que, na reunião, o presidente do conselho de jurisdição nacional, Nunes Liberato, mostrou disponibilidade para, em conjunto com a comissão política nacional, “poder fazer uma alteração que clarifique a questão das votações que são em lista”, evitando que seja sempre necessário o recuso ao voto secreto. No entendimento da comissão política, explicou, a votação de uma lista não é equivalente a uma deliberação sobre nomes.
O conselho nacional desta quarta-feira ficou ainda marcado pela contestação à ausência do PSD-Açores nas listas de candidatos às europeias e é a essa divergência que são atribuídos os votos contra. Alexandre Gaudêncio, líder do PSD-Açores, disse não aceitar um “tratamento de segunda” e admitiu não fazer campanha para as europeias naquela Região Autónoma.
No seu discurso, segundo relatos ao PÚBLICO, Rui Rio referiu-se de forma elogiosa aos primeiros candidatos (no caso de Cláudia Aguiar disse apenas ser o nome indicado pela Madeira) e nada disse sobre Poiares Maduro, que aceitou ser o último suplente da lista. De resto, só um conselheiro nacional se referiu ao ex-ministro de Passos Coelho.
O líder do PSD voltou a dizer que o seu combate político é ganhar as eleições e não as sondagens, mas fez algumas contas sobre os números que são conhecidos. Na perspectiva de Rio, o PSD já pode estar à frente do resultado obtido (27,7%) em coligação com o CDS-PP, em 2014, se somar os 25% de uma das mais recentes sondagens do Expresso lhe atribui e os 8% que pertencem ao CDS-PP. Para alguns conselheiros nacionais esta perspectiva já é a de quem procura já uma justificação para um resultado infeliz nas europeias. Houve também quem notasse a satisfação de Rui Rio ao anunciar que as contas do partido estavam em ordem, com uma descida do passivo e com um resultado líquido positivo.
Vários elementos da lista intervieram - os conselheiros puderam ouvir a número dois, Lídia Pereira - após Paulo Rangel ter deixado uma mensagem de mobilização “Eu tenho a certeza que o PSD vai aumentar o seu número de eurodeputados, não vou fazer prognósticos, mas não tenho dúvidas sobre isso”, disse aos jornalistas.
Já depois da votação das listas foi discutida a questão da alteração aos estatutos. A discussão das duas propostas de alteração, de António Rodrigues e de Paulo Colaço, foi adiada até ao próximo congresso, após 13 meses de discussão sem que nada fosse votado pelo conselho nacional. A próxima reunião magna do PSD já acontecerá após as legislativas e deverá ter uma disputa de liderança já que Rui Rio termina o seu mandato no início de 2020.