Brasil importa flagelo americano dos massacres escolares: dez mortos em São Paulo
Dois antigos alunos de uma escola dos arredores de São Paulo mataram oito pessoas a tiro, suicidando-se de seguida. Cinco das vítimas são crianças. Senador de São Paulo diz que "se os professores estivessem armados", a tragédia "teria sido evitada". Dilma Rousseff, ex-Presidente, critica liberalização do acesso às armas.
Um adolescente de 17 anos e um homem de 25 mataram oito pessoas, nesta quarta-feira, na escola estadual Professor Raul Brasil em Suzano, na área metropolitana de São Paulo, Brasil. As oito vítimas são cinco crianças, duas funcionárias da escola e o proprietário de uma empresa de aluguer de viaturas vizinha do estabelecimento de ensino, detalhou o jornal Folha de São Paulo. Há ainda uma dezena de feridos.
Os atiradores suicidaram-se em seguida. A Polícia Militar identificou os autores do ataque como Guilherme Monteiro, de 17 anos, e Luís Henrique de Castro, de 25. Eram antigos alunos da instituição, que contava com 1067 estudantes e 105 funcionários.
As autoridades dizem que os dois atacantes entraram encapuzados e armados na escola, utilizando um revólver calibre 38, quatro carregadores, uma besta (arma medieval) e cocktails molotov. Chegaram ao local num carro alugado, cerca das 9h30, pouco depois do início das aulas.
Não se sabe para já quais seriam as suas motivações, disse o governador do estado de São Paulo, João Dória, que declarou três dias de luto. O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, reagiu ao ataque seis horas depois, falando numa “monstruosidade e covardia sem tamanho”.
O massacre na escola, a fazer lembrar os sucessivos tiroteios ocorridos em estabelecimentos de ensino nos Estados Unidos, acontece numa altura em que o Brasil está em vias de liberalizar o porte de armas. Copiando a retórica de Donald Trump, o senador Major Olímpio, eleito pelo estado de São de Paulo pelo Partido Social Liberal (que apoiou Bolsonaro), declarou que, “se os professores estivessem armados, e se os serventes [funcionários auxiliares] estivessem armados, essa tragédia de Suzano teria sido evitada”.
Em sentido inverso, a antiga Presidente brasileira Dilma Rousseff apontou o dedo a Bolsonaro e à liberalização do acesso às armas: “O absurdo estarrecedor é que, neste trágico dia em que assistimos à morte de 10 pessoas e o ferimento de outras 9, o Presidente da República tenha o desplante de anunciar uma lei propondo maior acesso a armas”.
“O porto de armas irrestrito e amplamente liberado a toda a população vai dar instrumento para que o assassinato massivo se torne endémico e quotidiano”, escreveu Dilma.
O Brasil tem uma das mais elevadas taxas de homicídios do mundo, mas ataques deste género contra escola são raros, ainda que não sejam inéditos: em 2017, nove crianças morreram num fogo posto numa escola em Minas Gerais; em 2011, doze adolescentes foram assassinados num estabelecimento de ensino no Rio de Janeiro.