Curdos antecipam fim da resistência do Daesh depois de mais 3000 rendições
Apesar das dezenas de milhares de civis que já tinham abandonado o último reduto dos jihadistas na Síria, mais 3000 combatentes e as suas famílias saíram de Baghouz só na terça-feira.
As forças curdas que lideram uma coligação apoiada pelos Estados Unidos no combate ao Daesh dizem ter impedido uma tentativa de ataque suicida ao início da madrugada durante a última batalha para expulsar os jihadistas do seu derradeiro enclave na Síria. A batalha por Baghouz, cidade que junta uma série de aldeias e quintas perto da fronteira com o Iraque, está praticamente acabada, garantem as Forças Democráticas da Síria, aliança liderada pela milícia curda YPG.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As forças curdas que lideram uma coligação apoiada pelos Estados Unidos no combate ao Daesh dizem ter impedido uma tentativa de ataque suicida ao início da madrugada durante a última batalha para expulsar os jihadistas do seu derradeiro enclave na Síria. A batalha por Baghouz, cidade que junta uma série de aldeias e quintas perto da fronteira com o Iraque, está praticamente acabada, garantem as Forças Democráticas da Síria, aliança liderada pela milícia curda YPG.
“O objectivo dos nossos avanços é aterrorizar os combatentes do Estado Islâmico para que eles se rendam e para que os civis saiam”, disse um comandante das FDS, Ali Cheir, citado pela Al-Jazira. Terça-feira ao final do dia, Mustafa Bali, um dos porta-vozes da coligação, escreveu no Twitter que só na terça-feira se tinham rendido 3000 combatentes e as suas famílias. A operação, iniciada em Dezembro, foi parada várias vezes para permitir aos civis, a maioria mulheres e filhos de jihadistas, abandonarem o território.
Segundo a coligação curdo-árabe, só na segunda-feira, dia em que o assalto contra Baghouz recomeçou, já tinham sido evacuadas 400 pessoas. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em Dezembro que no fim desta operação vai retirar os 2000 soldados americanos que apoiam os curdos na Síria. Espera-se que centenas de jihadistas estrangeiros possam regressar aos seus países para ali serem julgados, quando o Califado estiver por fim derrotado.
Três mulheres da minoria yazidi e quatro crianças que estavam sequestradas pelos jihadistas foram entretanto libertadas, disse ainda Bali. “Quando as nossas forças confirmarem que toda a gente que se quer render já o fez, os confrontos vão recomeçar”, acrescentou, garantindo que a derrota do Daesh está muito próxima.
“Durante a noite, os aviões da coligação internacional visam todos os movimentos. Por isso, as rendições acontecem de manhã. Nós interrompemos os nossos disparos completamente para que eles se rendam”, descreveu Ali Cheir. No terreno, depois de uma acalmia na frente durante o dia de terça-feira, os bombardeamentos de artilharia recomeçaram ao início da noite.
Desde Dezembro saíram de Baghouz dezenas de milhares de pessoas. Quase todas foram transferidas para campos de deslocados em Al-Hol, no Nordeste do país. Segundo o Gabinete da ONU para a Coordenação Humanitária, encontram-se ali agora mais de 66 mil pessoas.
As Nações Unidas dizem que o ritmo das chegadas diminuiu nos últimos dias – a ONG International Rescue Commitee diz que mais de cem pessoas, na maioria crianças, morreram a caminho para Al-Hol ou pouco depois de ali terem chegado e franceses familiares de filhos de jihadistas que ali se encontram dizem que as crianças estão detidas em grupos de 15 por tenda, sem nada para fazer e que algumas não se lavam há dois meses.
“Servos de Deus”
Apesar de estarem na iminência de perder o seu último território povoado – depois de terem controlado o equivalente a um terço da Síria e do Iraque, desde em que 2014 declararam um Califado – os membros do Daesh fizeram um vídeo de propaganda dirigido aos residentes que sobram em Baghouz. “Servos de Deus, continuem a recitar as vossas orações e a pedir perdão”, ouve-se de um altifalante numa carrinha que percorre um acampamento no vídeo intitulado “O Significado da Constância, de Baghouz”, divulgado depois de dia 9 de Março.
“Por que é que somos bombardeados por aviões, por que é que todas as nações do mundo dos infiéis se juntam para nos combater?... Que culpa temos? Qual é o nosso crime? Nós só queremos aplicar a sharia [lei islâmica] de Deus”, diz no vídeo um jhadista identificado como Abu Abd al-Azeem. “Os infiéis riem-se de nós, humilham-nos neste mundo mas a guerra tem altos e baixos e a batalha não acabou”, continua, acrescentando que o líder do grupo, Abu Baqr al-Baghdadi é o único líder muçulmano hoje na terra.
Nas imagens surgem homens sentados em baldes e no chão a comer sopa de potes que cozinham em lumes acesos na rua. Azeem pede aos que vêem para não se focarem nas condições de vida, sugerindo que os que permanecem em Baghouz são mártires. Segue-se uma referência a uma parte do Corão que descreve como um grupo de pessoas foi queimado numa vala por causa da sua forte crença em Deus. Entre os milhares de civis que abandonaram a cidade nas últimas semanas muitos dizem que faltava de tudo em Baghouz e que as pessoas estavam reduzidas a comer erva.
Com milhares de jihadistas já a ocupar posições no deserto da Síria e em diferentes áreas do Iraque, outra voz no vídeo, de Abu Addallah, pede: “Não tenham medo, irmãos, estejam alegres e mantenham a fé”, ouve-se, com um sotaque do Magrebe. “Amanhã, se Deus quiser, nós vamos estar no paraíso e eles no inferno”, diz ainda Azeem, referindo-se aos que combatem o Daesh.
A dias de se completarem oito anos desde as primeiras manifestações pacíficas contra o regime de Bashar al-Assad, em Março de 2011, estima-se que o conflito tenha morto meio milhão de pessoas e obrigado 5,6 milhões a abandonar o país, o que provocou a maior crise de refugiados no mundo desde a II Guerra Mundial. Outros 6,6 milhões de sírios perderam as suas casas mas ficaram no interior do país.