Lucro da EDP afunda 53% para 519 milhões
Empresa queixa-se de primeiro prejuízo em Portugal desde a privatização. Venda de activos está nos planos do grupo liderado por António Mexia.
Os resultados líquidos da EDP caíram 53% em 2018, para 519 milhões de euros (1113 milhões em 2017). A empresa liderada por António Mexia anunciou esta segunda-feira que as contas de 2018 reflectem “o forte impacto negativo de elevada fiscalidade e decisões regulatórias adversas em Portugal”.
A eléctrica destaca nesta lista de penalizações o corte de 303 milhões nos ganhos relacionados com os contratos CMEC (custos para a manutenção do equilíbrio contratual), 65 milhões relativos ao pagamento da taxa extraordinária da energia (a CESE), os 56 milhões do imposto sobre a geração eléctrica (conhecido por clawback), o custo de financiamento da tarifa social (84 milhões) e a queda de receitas da actividade regulada de distribuição (cujos pressupostos são definidos pelo regulador da energia), que se traduziu numa quebra de 164 milhões de euros. No total, 672 milhões de euros a menos no negócio em Portugal.
O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) recuou 3%, para 3,287 mil milhões de euros. A dívida líquida também reduziu três por cento (quatro milhões), para 13,5 mil milhões de euros.
A EDP queixa-se que teve os primeiros prejuízos em Portugal desde o início da privatização, em 1997. No total, as perdas da actividade portuguesa (excluindo a EDP Renováveis) ascenderam a 18 milhões de euros, que comparam com um lucro de 169 milhões de euros em 2017, refere a eléctrica. A empresa diz ainda que, mesmo com as renováveis, o peso do negócio português no resultado líquido consolidado recuou de 20%, para apenas 4% (de 217 para 23 milhões).
António Mexia, que esta terça-feira irá apresentar em Londres o novo plano estratégico da empresa até 2022, terá os argumentos perfeitos para explicar aos analistas financeiros e aos investidores internacionais por que é que o futuro da empresa passa pela venda activos em Portugal e por uma maior aposta em renováveis. Tal como a empresa, aliás, confirmou num comunicado divulgado no domingo à noite, na sequência de notícias da Reuters e do Eco sobre a venda de activos.
A EDP admitiu que o plano estratégico para 2019 - 2022 que foi definido pelo conselho de administração executivo “contempla, em termos genéricos, quer um reforço do investimento em renováveis quer um plano de alienação de activos”. A EDP desinvestiu recentemente de centrais de biomassa e mini-hídricas em Portugal (em 2017 já tinha vendido a rede de distribuição de gás).
Esta estratégia está em linha com as sugestões que foram deixadas à empresa pela Elliott Management, o accionista da EDP conhecido como “fundo abutre”, que chocou de frente com a Oferta Pública de Aquisição (OPA) anunciada pela China Three Gorges (CTG) em Maio passado. E que permanece sem desenvolvimentos visíveis, parecendo condenada ao fracasso por causa de entraves regulatórios quer em Portugal, quer nos Estados Unidos.
A Elliott (do investidor Paul Singer) tem 2,9% do capital da EDP e, num site criado em Fevereiro, deu a sua receita para a estratégia a seguir pela empresa: esquecer a OPA chinesa, vender a operação no Brasil e alguns negócios na Península Ibérica (como as centrais térmicas e as redes de distribuição) e apostar tudo nas renováveis, em particular em mercados como o norte-americano, que já representa 40% do negócio do grupo e onde o potencial de crescimento é grande.
A Elliott põe ainda a tónica na necessidade de continuar a reduzir a dívida líquida do grupo.
A EDP já tinha divulgado em Fevereiro as contas da EDP Renováveis. Os lucros da empresa presidida por João Manso Neto subiram 14%, para 313 milhões de euros em 2018 (o melhor resultado de sempre), embora as receitas tenham recuado 7%, para 1697 milhões de euros, devido à queda do preço médio de venda da energia (que caiu 9%). A EDP Renováveis contribuiu com 259 milhões para os lucros do grupo.
A EDP vai manter o dividendo de 19 cêntimos por acção relativo ao ano de 2018.