Um novo capítulo nas relações com Angola
Para Portugal, Angola é um destino crucial para a internacionalização das suas empresas e, para Angola, Portugal é o parceiro ideal para desenvolver a sua agricultura.
Está definitivamente aberto um novo capítulo nas relações de Portugal com Angola e essa certeza não fica apenas confirmada pelo “discurso encorajador” do Presidente da República na Assembleia Nacional em Luanda, na celebração de novos acordos estratégicos ou no empenho que o Governo de João Lourenço revela para resolver pendências “irritantes” como os pagamentos a empresas portuguesas. Mais importante do que a diplomacia formal, o que sublinha esse novo tempo é o estado de espírito exibido pelos angolanos nas recepções ao Presidente-Rei Marcelo. Se muitos dos ingredientes tóxicos na relação entre os dois países resultavam de questões emocionais que persistem desde o colonialismo, os banhos de multidão a Marcelo Rebelo de Sousa são a prova acabada que o discurso bafiento e instigador de desconfianças da anterior liderança de Angola está a dar lugar a um novo clima no qual o respeito e o interesse mútuos se sobrepõem. Uma excelente notícia para os dois povos.
Para começar, é muito mais fácil haver empatia com a nova liderança angolana do que com a clique nepotista e corrupta de José Eduardo dos Santos. Hoje, o chefe de Estado português pode elogiar o “projecto de paz, de democracia, de regeneração financeira, de desenvolvimento económico, de combate à corrupção” em curso em Angola sem cair no ridículo. E, havendo uma maior sintonia de valores na política ou na prática empresarial, tudo fica mais simples. Marcelo pode falar numa “proximidade íntima” entre os dois países, o Governo de Angola pode anunciar com credibilidade um novo clima de confiança para atrair investimentos portugueses e o muro de arrogância que foi sendo solidificado nos últimos anos pode finalmente ruir.
E ruirá com mais certeza de os dois países se servirem dos afectos para cimentar uma relação económica mais intensa e duradoura. Para Portugal, Angola é um destino crucial para a internacionalização das suas empresas e, para Angola, Portugal é o parceiro ideal para desenvolver a sua agricultura (o saber da agronomia nacional sobre o potencial angolano é precioso), para diversificar a sua economia ou para modernizar o seu sistema fiscal ou educativo. Investir em Angola num quadro mais transparente, com mais segurança jurídica e sem a ameaça da corrupção torna-se uma oportunidade única para as empresas nacionais. Aproveitar os saberes da gestão, da ciência ou da governação dos portugueses é crucial para o sucesso do projecto que João Lourenço anunciou. Enterrados os irritantes, Portugal e Angola têm hoje como raramente no passado uma oportunidade única para abrir uma relação mais intensa e frutuosa.