Resposta a João Miguel Tavares
Não admito que na parte da História onde participei essa História seja branqueada e deturpada.
Como já esperava, João Miguel Tavares não deixou passar em claro o esclarecimento que publiquei no PÚBLICO como resposta ao seu artigo sobre Marcelino da Mata, onde me citava.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Como já esperava, João Miguel Tavares não deixou passar em claro o esclarecimento que publiquei no PÚBLICO como resposta ao seu artigo sobre Marcelino da Mata, onde me citava.
E, curioso, olha-se ao espelho e acusa-nos, a mim e a Manuel Carvalho da Silva, de desonestidade intelectual, pois “fizemos um grande esforço para tresler o que ele escrevera”.
Onde? Como? Não compreendo (no que me diz respeito, pois não conheço o texto do Manuel Carvalho da Silva).
Tanto quanto se pode ler no meu texto, limito-me a afirmar não poder confirmar que Marcelino da Mata é o militar mais condecorado da nossa História, acrescentando que confirmo aquilo de que João Miguel Tavares não gostou no artigo “A Guerra Colonial ainda não acabou?”, onde afirmava a minha perplexidade por, passados muitos anos sobre a Guerra Colonial, se pretender promover por distinção (pela terceira vez) um militar, então considerado herói, por acções que foram endeusadas mas que, como referi, por conhecimento directo e indirecto, eu sei terem-se constituído como horrendos crimes de guerra.
Para João Miguel Tavares, que interessa isso, se o que é preciso é fazer-se um filme sobre os heróis, sejam eles bons ou maus? Foram os fascistas que os fizeram heróis, que interessa isso?
Interessa é que se faça História, se dê a conhecê-la, não importando que, com tantas possibilidades, se comece por um endeusado criminoso de guerra!
Isso não tem nada de ideológico, aliás o João Miguel Tavares nem tem ideologia, pois essa esgota-se nos quintais ideológicos daqueles com quem discorda.
Em consequência, quando João Miguel Tavares dá expressão às histórias que correm sobre Marcelino da Mata, no que diz respeito a torturas que sofreu no PREC às mãos dos militares de extrema-esquerda (afinal a sua história nem é assim tão desconhecida como parece!), pouco lhe importa esclarecer quem foram esses militares esquerdistas (?), pois o que interessa é alimentar a imagem, tão querida ao sector ideológico de João Miguel Tavares, de que no PREC só aconteceram coisas altamente condenáveis.
Veja-se como, sintomaticamente, João Miguel Tavares nem se referiu a esse esclarecimento que lhe fiz (já agora, podia ter-me agradecido...).
Apenas mais um pequeno-grande pormenor: não me considero, como nunca me considerei, um dos donos da História de Portugal, não tenho nem professo qualquer linha oficial.
Simplesmente, não admito que na parte da História onde participei – como elemento com alguma importância, permitam-me a ousadia e a imodéstia... –, essa História seja branqueada e deturpada.
Por isso, podem, João Miguel Tavares e outros que perfilham as suas ideias e acções, promover os filmes, as entrevistas, as homenagens que entenderem para que a História seja do conhecimento geral. Estão no seu pleno direito, desde que essa promoção seja feita de forma honesta, séria e ética.
Se deturparem – por acção ou omissão – factos e/ou acontecimentos em que eu tenha participado, contem comigo para me opor a isso.
Por fim, João Miguel Tavares não gostou da maneira como me referi ao cargo/função para que o Presidente da República o nomeou. Considerou que o fiz de forma jocosa.
Nada de mais errado, pois limitei-me a expressar a minha confiança em que João Miguel Tavares não aproveite esse cargo para dar visibilidade – certamente que agora de outra forma, que não em paradas no Terreiro do Paço – aos heróis da Guerra Colonial, “tão esquecidos da opinião pública, apesar de terem sido altamente e profusamente condecorados”.
É que, face às preocupações mostradas por João Miguel Tavares e também face às recentes tentativas de promover por distinção (pela terceira vez) o Marcelino da Mata... nunca fiando.
Quanto ao cargo, não me pronuncio – por mais que isso me apetecesse – sobre a decisão do Presidente da República. Só desejo e espero que o resultado esteja de acordo com os desejos do professor Marcelo Rebelo de Sousa e não com os receios por muitos manifestados, face à nomeação feita...