Barnier empurra May para nova derrota: “Que jogo estão eles a fazer?"
May pediu concessões de última hora, mas o negociador da UE fechou a porta, deixando a classe política britânica enfurecida com Bruxelas.
A primeira-ministra britânica pode estar a caminho de uma segunda derrota quando apresentar novamente a votação no parlamento de Westminster a sua proposta para o “Brexit”, depois de o negociador da União Europeia, Michel Barnier, ter rejeitado fazer concessões de última hora ao acordo.
A escassos 19 dias do “Brexit” (marcado para 29 de Março), e nas vésperas da votação definitiva sobre o acordo no parlamento de Londres, as relações entre Londres e Bruxelas parecem estar a deteriorar-se — ainda que as negociações prossigam durante todo o fim-de-semana.
Sinal deste ambiente foi a pergunta que a deputada do Partido Conservador (o de May) Andrea Leadsom fez neste sábado: “Ainda há esperança, mas tenho que dizer que estou muito desapontada com o que estamos a ouvir da UE. Tenho que perguntar que espécie de jogo estão eles a fazer”.
Num discurso de sexta-feira em Grimsby, Theresa May pediu à União Europeia para fazer novas concessões sobre a fronteira na Irlanda, o ponto mais polémico do acordo devido à cláusula conhecida por backstop, o mecanismo de salvaguarda, exigido por Bruxelas, para evitar uma fronteira física na ilha irlandesa e que levou muitos deputados a votarem contra o texto negociado entre May e Barnier.
O backstop diz que o Reino Unido continua a cumprir muitos dos regulamentos “a menos que e até que” surja “um acordo alternativo” que garanta que não há uma fronteira rígida.
A União Europeia “tem que fazer uma escolha”, disse May. “Somos dois os participantes deste processo. E é do interesse da Europa que o Reino Unido saia com um acordo. Estamos a trabalhar com eles, mas as decisões que a União Europeia fizer nos próximos dias terão um grande impacto no resultado da votação”, disse May, pondo a pressão sobre Bruxelas.
Respondendo a May, Barnier foi claro — voltar à proposta inicial para a fronteira na Irlanda, um backstop apenas para a fronteira da Irlanda do Norte, o que na prática significa uma fronteira aberta e a província do Reino Unido debaixo das regras de Bruxelas, o que May rejeita.
“A União Europeia compromete-se em dar ao Reino Unido a opção de sair da união aduaneira unilateralmente, enquanto os outros elementos do backstop são mantidos para evitar uma fronteira rígida. O Reino Unido não é forçado a permanecer na união aduaneira contra a sua vontade”, escreveu Barnier no Twitter na sexta-feira ao fim da tarde.
O backstop só para a Irlanda do Norte, rejeitado por Londres, voltou a ser criticado pelo DUP, o partido unionista que apoia o Governo de May no parlamento de Londres, que afirma que esta opção separa a Irlanda do Norte do resto do Reino Unido. Um dos líderes do partido, Nigel Dodds, disse na sexta-feira à noite, depois dos tweets de Barnier: “Isto não é nem realista nem sensível da parte de Barnier. Desrespeita a integridade constitucional e económica do Reino Unido”.