Ramiro, os segredos da cervejaria que conta histórias

A cervejaria O Ramiro é uma instituição lisboeta. Alexandra Prado Coelho e Paulo Barata revelam em livro os segredos de um sucesso ímpar, ao mesmo tempo que percorrem seis décadas de história da capital.

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Paulo Barata
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Da pequena casa de pasto dos anos 1950 à instituição que é hoje, o Ramiro, no número 1 da Almirante Reis, é daqueles lugares de que qualquer lisboeta, pelo menos, já ouviu falar. E a história da cervejaria vai para lá do espaço entre paredes: encontra-se nas memórias de quem lá trabalhou ou de quem por lá sabe que não há nada mais falso do que a ideia de não ser possível reviver um bom momento. Mas a história do Ramiro também está no montado espanhol (onde crescem os porcos ibéricos que dão origem ao presunto Cinco Jotas, servido em fatias bem finas), nas águas de onde vem o melhor marisco, nos viveiros de amêijoas de Olhão, na ria de Aveiro onde são apanhadas as ostras, na cerveja bem tirada, no lote de café…

Por isso, um livro sobre O Ramiro nunca podia ser só um livro sobre a cervejaria. E este não o é. A dupla Alexandra Prado Coelho (jornalista do PÚBLICO), que assina os textos, e Paulo Barata, responsável pelas imagens, decidiu ir mais longe e partir à descoberta de todos os pequenos detalhes que fazem do Ramiro uma instituição, percorrendo sessenta anos de idas e vindas, de altos e baixos, de maior ou menor projecção, de laços fiéis criados com os melhores fornecedores. Sempre na senda de conquistar novos clientes, recebendo-os como se estes já o fossem antes de o serem. Pelo meio, conta-se ainda um bom naco da história da capital.

A obra, lançada a 28 de Fevereiro, pode descrever-se como uma decomposição de todos os ingredientes que entram no cozinhado do reconhecido sucesso. A começar pelo percurso de Ramiro (1931-2009), da forma como se perdia pelo futebol, pelos automóveis ou, mais tarde, pela caça. Mas também da sua visão de negócio e de sentido de oportunidade, da sua capacidade, desde cedo, para conquistar a simpatia das peixeiras da praça onde ia e que lhe viria a valer sempre os melhores espécimes de mariscos.

Paralelamente, enquanto ia criando um espaço único na Almirante Reis, transformando a casa de pasto do pai e de um compadre deste num conceito mais próximo do que idealizara, apaixonou-se por uma rapariga, também galega, que vivia na vizinhança. E foi ao lado de Maria Albina Seoane, conhecida por Maruja, que viria a conquistar o sucesso, passo a passo. Dizia, conta o livro, que ele tinha as ideias e ela fazia as contas – o que, na sua visão, fazia deles uma dupla imbatível. E foram-no. Ao mesmo tempo que constituíram família (tiveram u­m filho e uma filha - foi a última, Ana, que, em conjunto com o marido Pedro, assumiu as rédeas da cervejaria), criaram outra família na marisqueira, onde os funcionários não ficavam de passagem, mas uma vida.­ Afinal, lemos, “o sabor da vida depende de quem a tempera”.

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