Inquilina espera há quase três meses por transferência considerada prioritária

L. foi ameaçada de morte no seu bairro e pediu transferência. Câmara do Porto aprovou "priorização" do caso e prometeu solução. Mas inquilina está há quase três meses sem casa

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Câmara propôs solução no bairro de Francos, mas inquilina recusou ao deparar-se com venda de droga e consumo Teresa Pacheco Miranda

A angústia de L. invadiu a reunião camarária de 22 de Janeiro. Perante o executivo de Rui Moreira e os vereadores da oposição, a inquilina contou o pesadelo onde tinha mergulhado no dia 18 de Dezembro. Na Pasteleira Nova, um caso de desentendimentos aparentemente irrelevante acabou em tiros para o ar e ameaças de morte. L. – assim identificada por medo de represálias – fechou-se em casa com os filhos por 24 horas. Depois pediu escolta policial para sair. E nunca mais voltou à Pasteleira.

O relato e as preces para uma transferência de habitação mereceram a atenção do presidente da câmara que se apressou a pedir ao seu vereador da Habitação, Fernando Paulo, para considerar o caso urgente. O pedido havia merecido parecer negativo, informou o vereador, mas iria ser reanalisado. Já depois da reunião, quando o PÚBLICO falava com a inquilina, Rui Moreira viria reconfortá-la, prometendo uma solução rápida. Mas quase três meses depois da saída do bairro – e mês e meio passado da reunião de câmara –, a situação não foi resolvida.

A vida de L. e dos dois filhos ficou do avesso. Estão a viver “de favor” na casa de um familiar. “Dormimos os três no chão, num colchão de campismo com um metro e 40 de largura”, contou a inquilina. Na fuga da casa, cuja renda e restantes despesas continua a pagar, L. trouxe apenas meia dúzia de roupas e bens. É com eles que vai sobrevivendo. Mas a aflição é grande: “Estou desesperada. Não consigo dormir, já fui chamada à escola porque o rendimento dos meninos baixou, adormecem na primeira aula.”

Ao completarem-se as quatro semanas da reunião de câmara onde L. viu uma luz ao fundo do túnel, o PÚBLICO questionou a Câmara do Porto sobre o seu processo. O pedido de transferência havia culminado com a “aprovação de priorização” numa reunião do Conselho de Administração da Domus Social de 13 de Fevereiro, e a família de L. poderia mudar-se assim que houvesse “disponibilidade de habitação adequada”.

Ainda nesse dia, a inquilina recebeu o primeiro e único contacto da Domus: a empresa municipal tinha uma casa no bairro de Francos. Mas quando L. foi visitar a casa percebeu ser uma não-solução. A habitação era tão pequena que toda a mobília nova que comprara dias antes do incidente na Pasteleira teria de ser despachada. Na entrada do bloco habitacional havia um morador a consumir. No campo de futebol em frente, gente a traficar. “Não estou a fugir de uma situação para me meter noutra igual”, terá dito L. na Domus Social, recusando aquela casa.

Desamparada, tentou voltar à última reunião de câmara. Mas a sua inscrição não foi aceite: as vagas estavam já preenchidas. O PÚBLICO pediu ao executivo um ponto de situação. Mas não obteve respostas. “Só queria falar com o senhor presidente”, roga L.: “Se ele souber da minha situação, acredito que encontre uma solução para mim.”

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