Tomás Correia, o passado que não queremos repetir
Há meses (anos?) que Tomás Correia se tornou na reminiscência da hoste ignóbil que se acolitou na banca e na política para enriquecer sem mérito.
Está provado: o clima de abuso e de impunidade que em tempos recentes destruiu a credibilidade de parte do sistema financeiro português e causou sérios danos ao país continua nebuloso. O trágico desempenho de figuras como Oliveira Costa ou Ricardo Salgado perpetua-se através de Tomás Correia, o eterno todo-poderoso do Montepio.
Com uma diferença: se outrora os casos danosos se desenvolveram em segredo perante a passividade ora negligente, ora cúmplice do regulador, dos governos ou dos jornalistas, desta vez sabemos tudo de forma cristalina. Por isso, pergunta-se: até quando teremos de suportar a presença de Tomás Correia no Montepio? Até onde vai o Governo ou o regulador tolerar os seus abusos? Até quando as figuras públicas do “bloco central” dos interesses ou da maçonaria que suportaram a sua lista nas últimas eleições para a Caixa Mutualista vão ser capazes de continuar na política ou nos negócios sem corarem de vergonha?
A decisão de inscrever em acta a obrigação do banco pagar, não apenas as custas processuais, mas também as multas decorrentes da sua gestão irresponsável e promíscua, não é mais grave do que muitas das decisões anteriores de Tomás Correia. Mas revela-nos um ângulo especial: o da falta de ética para assumir até as suas próprias responsabilidades. Durante anos, diz-nos a investigação do Banco de Portugal que lhe impôs uma multa de 1,25 milhões de euros, Tomás Correia cometeu irregularidades graves de gestão, mas, na sua interpretação singular, não é nada com ele. O banco Montepio que pague. Chegamos assim ao papel do duplo pecado: o de ter errado com dolo e o de se eximir a esse erro remetendo a factura para o banco que dirige.
Há meses (anos?) que Tomás Correia se tornou na reminiscência da hoste ignóbil que se acolitou na banca e na política para enriquecer sem mérito. Os custos éticos e financeiros dessa legião pagaram-se com um resgate externo e com os sintomas de degenerescência ética do capitalismo português, que persistem no amiguismo ou na dependência do estado. Um país que se quer decente não pode continuar a ver homens como Tomás Correia à frente de bancos – nem de outro qualquer cargo de responsabilidade pública. Ele faz parte de um passado que não queremos repetir. Tem a palavra a tutela e o regulador. Para travar a palavra que justamente se ouve aos cidadãos fartos de viver num país onde a falta de idoneidade compensa.