Videoclipe
O Amante Negro: como erguer um pelourinho musical
Esta galeria é uma parceria com o portal Videoclipe.pt, sendo a seleção e os textos dos responsáveis do projeto.
A crónica de Hilário Amorim: Videoclipe, o herói improvável
Esta semana, na plataforma de referência dos videoclipes nacionais, um anónimo adicionou o vídeo Problemas, sendo este um tema assinado por uma nova personagem musical que pode vir a estalar o brilho à autoestima do macho conquistador e, ainda assim, abrilhantar muito corpinho feminino. Percebe-se: vive bem, veste bem — são às resmas. O Amante Negro, assim se chama e muita chama deve ter acendido. Por isso, lá se queimou. No mínimo, está com problemas de consciência e de existência, ou seja, é rapaz assombrado pelo mulherio amado. E sobre elas está a erguer uma espécie de pelourinho musical, no sentido em que esse pilar fálico no centro dos municípios era onde se expunham e puniam os culpados. No fundo, bem fundo, um r&b tenso, macerado, esguio, sinuoso, elegante, carnal, mas sombrio, misterioso, noturno, atordoado. No cimo, ou à tona, uma voz arrastada e que pesa tanto as mágoas como os desejos das palavras.
Musicalmente pode estar próximo do português Slow J ou dos canadianos SUUNS, mas denota voz própria e lusa. Na verdade, é apenas um dos temas do novíssimo projeto do Fernando Fernandes, conhecido pelas danadas e inesquecíveis atuações como vocalista dos roqueiros Bed Legs, ou como rapper e produtor do seu hip hop experimentalista enquanto Ângela Polícia ou até como DJ Pink Da Sound. Prolífico, portanto; quantos filhos já fez, não sabemos. Sabemos pelo genérico (não por quem adicionou o vídeo, infelizmente) que também pensou o videoclipe, que é o verdadeiro palco atual da música, pelo qual esta, além de se fazer comunicar, leva à cena toda a sua carga emotiva e significativa. É certo que pode ter levantado aqui imenso convencionalismo do hip hop/r&b americano (bastaria um simples truque visual para melhor “ler” as modelos como projeções mentais, e não como meras babes), mas aquele interior vermelho, aquele ar de Drive/Nightcall em plena Braga acaba por demonstrar como ele está a erguer algo bem promissor e... tentador. Vá, liguem, isto é, partilhem!
Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.