A manhã seguinte à separação de Sasami

A melhor forma de lidar com conflitos é reflectir sobre eles, não fugir, num disco de canções rock vibrantes mas pacificadas.

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Versátil, lúdica e desafectada: Sasami

Ela não está para subtilezas. Misto de diário e colecção de cartas nunca enviadas, o álbum de estreia de Sasami Answorth, conhecida apenas por Sasami, é segundo ela uma obra intimista que se inspira “em toda a gente que fodi e me fodeu no último ano”, confessou numa rede social, em jeito de apresentação.

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E no entanto é um álbum de canções cálidas, enleantes e até certo ponto pacificadas, o que demonstra que a melhor forma de lidar com conflitos é reflectir sobre eles, não fugindo deles. A dar sentido às palavras deparamos com uma música rock melódica, com tanto de romance como de nervo, misto de construção de atmosferas, com alguma trepidação, ruído e electricidade à volta, com a voz, guitarras e teclas em destaque.

Não é uma novata. Teclista no grupo Cherry Glazerr, trata-se de uma multi-instrumentista dotada que provavelmente não regressará à sua banda de origem. É que este seu registo solitário é nitidamente melhor do que alguma coisa que tenha feito antes. Claro que como parte considerável do indie-rock dos últimos anos, existem as influências à flor-da-pele (dos Velvet Underground aos My Bloody Valentine) e cumplicidades presentes (de Vagabon a Mitski).

Mas nada disso impede a marca autoral, com uma voz que é quase sempre relaxada e doce, sem deixar de expor fogosidade quando a música o pede, ou uma guitarra que é ondulante, mas que quando é necessário também sabe ser directa, em canções onde discorre sobre as muitas cambiantes das relações falhadas ou sentir-se à margem das sociabilidades mais hegemónicas.

Pelo meio existem algumas participações (Devendra Banhart, a actriz e cantora francesa Soko ou Dustin Payseur dos Beach Fossils) que foram concretizadas em Los Angeles, de onde é natural, mas o peso específico das mesmas é reduzido. Esta é visivelmente a sua obra. Versátil, lúdica e desafectada, mescla de intimismo lírico, voz afectuosa e jovialidade instrumental, com guitarras límpidas e melodias precisas, numa composição de ambientes tão melancólicos quanto abrasivos, no espaço dos quais o peso dramático das palavras é dissolvido pelo emanar da sua vivacidade interior. Sinal de que, depois de suplantadas as frustrações, existe um vasto horizonte à espera de Sasami.

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