China anuncia planos para fintar ano de riscos e de desaceleração económica
Redução do crescimento económico, guerra comercial com Washington e descontentamento popular foram assumidos pelo primeiro-ministro Li Keqiang como desafios para 2019, na inauguração da sessão legislativa chinesa.
O ano de 2019 vai testar a República Popular da China com “desafios previsíveis e imprevisíveis”, “batalhas duras”, “riscos complexos” e “dificuldades severas”. Foi neste registo cauteloso que o primeiro-ministro chinês inaugurou nesta terça-feira a sessão anual do Congresso Nacional do Povo, o órgão legislativo que se reúne durante os próximos dez dias em Pequim.
Li Keqianq estimou uma redução do crescimento económico, assumiu o impacto negativo da guerra comercial com os Estados Unidos e revelou os planos do Governo para enfrentar um “ano crucial” – que incluem cortes nos impostos e aumentos no investimento público.
As estimativas do Partido Comunista Chinês (PCC) para 2019 apontam para um crescimento da economia entre os 6% e os 6,5%. Números interessantes para um qualquer país do globo, mas modestos no que à China diz respeito – longe dos dois dígitos que por ali já figuraram ao longo das últimas décadas. A confirmarem-se as previsões, serão inferiores aos 6,6% registados em 2018 e podem empurrar o gigante asiático para um dos mais reduzidos níveis de crescimento desde 1990.
“Vamos ter de enfrentar um ambiente mais severo e complicado, assim como novos riscos e desafios”, alertou Keqianq aos quase três mil membros do Congresso – a grande maioria do PCC – que se reuniram no Grande Salão do Povo, na capital chinesa. “As pressões sobre a economia chinesa continuam a aumentar, o crescimento do consumo está a diminuir e crescimento do investimento carece de dinamismo”, prosseguiu, citado pelo Guardian.
No diagnóstico do primeiro-ministro cabem ainda as repercussões negativas, nas transacções e nas expectativas do mercado chinês, das “disputas comerciais” com a Casa Branca de Donald Trump – que atravessam desde Dezembro uma fase concertada de tréguas –, bem como o “descontentamento público” aferido nas áreas da “educação, saúde, habitação, segurança alimentar e redistribuição de rendimentos”.
Li Keqianq afiançou, no entanto, que o Governo está preparado e confiante para fintar as adversidades: “Não devemos subestimar as dificuldades que encaramos, mas a nossa confiança não pode ser enfraquecida. Temos de estar totalmente preparados duras batalhas”.
Na lista de medidas anunciadas para suavizar as adversidades, enunciada pelo South China Morning Post, destacam-se a redução dos impostos nos sectores produtivos, na construção e no transportes, o aumento em mais de 30% do financiamento dos bancos do Estado aos privados, cortes nos preços da electricidade (10%), da Internet (15%) e comunicações móveis (20%) e um incremento até 6,5% do investimento público na saúde, na educação, no emprego e serviços sociais.
“Li Keqiang tinha como objectivo tranquilizar os dois grupos que mais se têm queixado: os empreendedores privados chineses e a comunidade empresarial estrangeira”, arrisca no Twitter Damien Ma, co-fundador do think tank MacroPolo. “O PCC percebeu a mensagem. Resta saber se [as novas medidas] terão sucesso”.
Um ano depois de o ter elevado o Xi Jinping ao mesmo patamar que o histórico Mao Tsetung, abolindo o limite de mandatos presidenciais e consagrando o seu “pensamento” na Constituição chinesa, o estado de alma do PCC é, por estes dias, mais comedido.
É que para além dos desafios económicos, as autoridades têm vindo a registar o aumento dos protestos nas ruas, com trabalhadores, estudantes, activistas e ex-militares a assumirem cada vez mais protagonismo. Uma realidade que preocupa o partido de Xi, ainda mais num ano em que se cumprem duas datas importantes para o regime: o orgulhoso 70.º aniversário da fundação do PCC e o sensível 30.º aniversário da repressão violenta na Praça Tiananmen.
“São dois aniversários muito ligados à legitimidade do partido”, considera Wu Qiang, comentador político independente, citado pelo El País. “Ainda que não se prevejam grandes protestos nessas datas o Governo teme que, tendo em conta a repressão recente contra dissidentes e movimentos civis, uma pequena manifestação possa levar ao colapso da sua autoridade, como uma avalanche”.