Morreu o músico Mário Piçarra, um dos fundadores dos Terra a Terra

O músico morreu aos 71 anos, numa altura em que acabara de voltar aos discos, com o recém-lançado Claridade.

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Mário Piçarra DR

O músico Mário Piçarra, de 71 anos, um dos fundadores do grupo Terra a Terra, morreu no sábado em sua casa, em Caxias, no concelho de Oeiras, disse esta terça-feira à agência Lusa fonte próxima da família.

Mário Piçarra tinha editado recentemente o CD Claridade, que dedicou à memória do seu pai, o cantor Luís Piçarra (1918-1999). O jornalista João Carlos Calixto referiu que este trabalho auspiciava "um novo começo" na carreira do músico, "cinco décadas exactas depois do seu primeiro disco, com o Quarteto 1111, e quatro décadas depois do início do seu trabalho com os Terra a Terra, que levou a sua e a nossa música a todo o país".

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Pastoral, o primeiro disco (1969) DR

Nascido em Lisboa, em 1947, Mário Piçarra fez parte em 1965 dos Chinchilas, com o guitarrista Phil Mendrix (1947-2018), e de 1969 a 1971 integrou o Coro da Academia de Amadores de Música, sob a direcção de Fernando Lopes-Graça.

Em 1969 editou o primeiro disco em nome próprio, o EP Pastoral, com uma canção de sua autoria (Borboleta preta). Nele musicou também poemas de José Gomes Ferreira (Pastoral), Sophia de Mello Breyner Andresen (o conhecido Porque, aqui musicado pela primeira vez) e Glória de Sant'Anna (Poema do mar). A direcção musical foi de José Cid, e no disco participaram António Moniz Pereira e Carlos Zíngaro.

Seguiu-se em 1970 um outro EP, Calçada de Carriche, onde, além da canção-título (com poema de António Gedeão), incluiu duas canções suas, Elegia e Romance das três barcas, e ainda Primavera, um tema do cancioneiro popular para o qual compôs novo arranjo.

Do exílio aos Terra a Terra

Entre 1972 e a queda da ditadura, Mário Piçarra viveu exilado em França; só voltou aos discos após o 25 de Abril de 1974. Em 1977 integrou o grupo Terra a Terra (do qual fez também parte Ana Faria), que se estreou discograficamente com o álbum Dançando, Pulirando, colectânea de canções populares recolhidas no Alentejo, na Beira Baixa e em Trás-os-Montes. Sucederam-lhe Pelo Toque da Viola (1981), Estilhaços (1983, este a partir de recolhas feitas por Margot Dias, César Neves, Gualdino Campos, Fernando Lopes-Graça e Michel Giacometti, e do qual faz parte um tema da autoria de Mário Piçarra, Vitral) e Lá Vai Jeremias (1984), tendo o grupo terminado a actividade em meados de 1987.

Após um interregno na música, Mário Piçarra licenciou-se em História, na Universidade Lusíada, e fez uma pós-graduação em História Diplomática Contemporânea. O CD Claridade, recém-editado, e que marcava o seu regresso às canções e aos discos, inclui temas como Aves do paraíso, Claridade, Guitarras da Mouraria, Amantes improváveis, Maré de liberdade, Fidjo Maguado ou Os artistas (no palco da vida).​