Bouteflika candidata-se e manifestantes voltam à rua
Campanha do Presidente diz que, se vencer o quinto mandato na votação de Abril, Bouteflika convocará eleições antecipadas.
Centenas de argelinos voltaram a manifestar-se contra a candidatura do actual Presidente, Abdelaziz Bouteflika, a um quinto mandato. O prazo para registo das candidaturas acabava no domingo e alguns esperavam que face à pressão dos últimos dias, com dezenas de milhares de pessoas nas ruas, o Presidente acabasse por não se candidatar.
E Bouteflika, que nos últimos anos raras vezes tem aparecido ou falado em público depois de um AVC que o terá deixado com capacidades diminuídas, não compareceu ele próprio para registar a sua candidatura, como exigiria a Comissão Eleitoral.
Em vez disso, o director de campanha Abdelghani Zalene fez o registo e anunciou que o Presidente de 82 anos irá convocar eleições antecipadas e nessa votação não irá concorrer.
Zlene leu uma carta que disse ter sido escrita por Bouteflika. “Ouvi os pedidos dos manifestantes e em especial dos milhares de jovens que perguntam pelo futuro da nossa nação”, dizia a carta.
“Estou empenhado na organização de uma eleição presidencial antecipada”, afirmava a missiva, acrescentando que a data seria decidida por uma “conferência nacional” após a votação de 18 de Abril. Promete “não ser candidato nessa eleição” e ainda levar a cabo nessa altura uma revisão da constituição.
Os manifestantes reagiram: acham que este anúncio “não tem significado nenhum” e exigem “mudança já”.
Bouteflika é tido como o responsável pelo fim da violência que marcou a guerra civil na Argélia (que entre 1992 a 2002 deixou entre 100 e 200 mil mortos e ainda 20 mil desaparecidos) e o garante da estabilidade no país. O espectro do regresso dessa violência, assim como o gasto dos lucros do petróleo em alguns programas sociais, manteve a sociedade argelina com pouca vontade de protestar.
Mas depois de um mandato em que Bouteflika mal apareceu – não fala em público há seis anos – muitos não estão dispostos a manter o que consideram ser “uma farsa” com um Presidente obviamente incapacitado para as suas funções.
O quadro com a cara de Bouteflika, que aparece nas cerimónias públicas em vez do Presidente ausente, tornou-se agora também um símbolo dos manifestantes, motivo de troça e protesto.
As autoridades dizem que o Presidente viajou para Genebra, Suíça, no final de Fevereiro para “um check-up de rotina”.