Morreu Luke Perry, ídolo adolescente em Beverly Hills, 90210 e actor maduro em Riverdale
O actor morreu aos 52 anos após um AVC. Começou num projecto definidor das séries juvenis e a sua carreira terminou noutra série teen, Riverdale - mas também com um papel num dos mais aguardados filmes de 2019 por estrear, Once Upon a Time in Hollywood de Quentin Tarantino.
Luke Perry, que foi catapultado para a fama planetária pela série Febre em Beverly Hills (Beverly Hills, 90210, no título original), morreu esta segunda-feira em Los Angeles. Um ídolo juvenil dos anos 1990 e um actor de Quentin Tarantino neste ano de 2019, o actor sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) na semana passada, como confirmou o seu representante ao The Guardian.
O actor, de 52 anos, morreu no hospital St. Joseph, em Los Angeles, rodeado da família e amigos mais próximos.
Perry encontrava-se em coma induzido desde a passada quarta-feira, dia 27. No mesmo dia, a Fox anunciou que vai fazer uma nova incursão por Febre em Beverly Hills, onde vai estar presente a maioria do elenco original mas que não incluía o actor, que ocupava actualmente um papel de relevo na série Riverdale — esta última parou a sua produção esta segunda-feira após ser conhecida a morte de Perry, e a Fox ainda não se pronunciou, à hora de publicação desta notícia, sobre o futuro do reboot de Beverly Hills.
Coy Luther Perry III sempre soube que queria ser actor. Nascido no Ohio, nos Estados Unidos, mudou-se para Los Angeles depois de concluir o ensino secundário, para entrar no mundo da representação. Perry participou em mais de 200 audições para conseguir um papel. O personagem Dylan McKay, um "bad boy" na série televisiva adolescente Febre em Beverly Hills, transmitida na RTP1 nos anos 1990, deu-lhe a fama global. A série chegou a ser vista por mais de 21 milhões de espectadores só nos EUA e chegou a dezenas de países, tendo ajudado a cimentar um género: a "novela juvenil", que teria sucedâneos como Gossip Girl, Dawson's Creek, The O.C. ou Adultos à Força.
Luke Perry não voltou a alcançar a fama que a personagem torturada de rebelde e galã de Dylan McKay lhe trouxe na década de 1990. Não era certo que a procurasse e o seu desconforto era visível quando era confrontado com uma das comparações mais frequentes nesses anos de ascensão na cultura popular dos anos dos poucos canais e mais uniformidade de consumos televisivos: chamavam-lhe “o novo James Dean”. “Não estou preocupado quanto a ser uma grande estrela. Mas fico nervoso quando as pessoas falam disso como se já tivesse acontecido”, disse à Rolling Stone quando o trio principal da série foi capa da revista, no auge da sua fama em 1992. A beleza do actor não passou despercebida tento sido considerado pela revista People, em 1991, “o maior quebra-corações da televisão”.
Febre em Beverly Hills (1990-2000) foi uma série definidora dos anos 1990 para o jornalista do New York Times Dave Itzkoff - não era Friends (1994-2004), outra candidata bem mais adulta ao título, nem Seinfeld (1989-1998), simbólica do cepticismo e ironia da era, mas marcou aqueles que entre 1990 e 2000 acompanharam e cresceram com os jovens californianos cujas vidas tornou em novelas. E a série lançou o seu autor Darren Starr para outras aventuras que ajudariam a definir o final da mesma década, mas em versão madura, como Sexo e a Cidade, e foi uma jóia da valiosa coroa de produção televisiva de Aaron Spelling, autor de outras séries de longa duração como Dinastia ou Melrose Place.
No pico da febre que era Febre em Beverly Hills, 500 mil cartas por semana chegavam à Fox para falar de Luke Perry e de Dylan. Em 1992, numa entrevista a Maria Shriver, futura primeira-dama da Califórnia que era sinónimo de Beverly Hills a par de outro fenómeno televisivo chamado Baywatch (1989-2001), confessava: “Senti-me esquisito da primeira vez que a minha mãe me viu a sair de uma limusine. Foi estranho”.
O actor fez uma pausa de duas temporadas da série para se dedicar a outros projectos como o filme 8 Segundos no qual interpretava a personagem Lane Frost. Em 1994, o actor disse ao The Washington Post que a série não o desafiava, mas acabou por regressar a Febre em Beverly Hills até ao final da sua produção, em 2000.
Na carreira do rapaz cujo liceu de Frederick Town, Ohio, nada tinha a ver com o dos gémeos Brandon e Brenda Walsh (Jason Priestley e Shannon Doherty) nem de Dylan McKay, eram mais raros os projectos autorais como a série John from Cincinnatti, de David Milch (Deadwood) para a HBO, que protagonizou, a série de grande apreço crítico Oz, ou o futuro filme de Quentin Tarantino Once Upon a Time in Hollywood, e mais frequentes os papéis esporádicos em procedurals criminais ou telefilmes. “Era um actor de composição no corpo de um ídolo juvenil”, como resumiu esta segunda-feira o actor Jon Cryer.
Actualmente, interpretava o papel de Fred Andrews, o pai da personagem principal Archie Andrews em Riverdale, série que oscila entre a origem juvenil e o tom de policial noir e que chegou a Portugal via Netflix. Mas o seu papel mais aguardado seria aquele que encarnou no filme de Quentin Tarantino Once Upon a Time in Hollywood, que se deve estrear este Verão e que se encontra já em fase de pós-produção. O projecto está rodeado de expectativa, envolvendo um elenco sonante (Leonardo DiCaprio, Al Pacino, Margot Robbie, Brad Pitt ou Tim Roth) e um momento forte da história americana - o final dos anos 1969, os crimes da Família Manson, o assassinato da actriz Sharon Tate e o fim do sonho e do espírito dos "sixties". Perry era um dos actores principais, e interpreta, segundo o site de informação sobre cinema e televisão IMDB, o papel de Scott Lancer.
As reacções à morte de Luke Perry
Nas redes sociais, fãs, amigos e colegas de profissão lamentam a morte do actor.
Marisol Nichols, de Riverdale, publicou uma fotografia dos dois no Instagram com a legenda: “Não tenho palavras neste momento. Talvez tenha mais tarde”.
Molly Ringwald, também de Riverdale diz: “O meu coração está partido. Vou sentir muito a tua falta, Luke Perry. Todo o meu amor vai para a tua família.”
O apresentador Ryan Seacrest reagiu no Twitter: “Luke Perry era um grande actor e realmente único. Vê-lo em 90210 foi uma das razões pelas quais me quis mudar para LA. Estou a pensar na tua família e amigos dentro e fora do set. Descansa em paz.”
Mayim Bialik, de The Big Bang Theory, e o actor Charlie Sheen, de Two and a Half Men, também se manifestaram.
A actriz norte-americana Christine Elise McCarthy, do elenco de Febre em Beverly Hills, diz estar “chocada e devastada” pela morte de Luke Perry.
Ian Ziering, também do elenco de Febre em Beverly Hills, deixou uma mensagem ao colega e amigo no Instagram.