Fio de pesca luminoso amigo do ambiente foi criado por portugueses
Espera-se que a comercialização comece ainda este ano.
Na pesca do palangre de superfície, os pescadores costumam usar sistemas de iluminação para atrair os peixes. Normalmente, usam luzes químicas ou lâmpadas incandescentes nesses sistemas. Mas, como não têm durabilidade, esses sistemas acabam por ficar na água como lixo. Por isso, investigadores do CeNTI (Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes), em Vila Nova de Famalicão, desenvolveram um fio com nanomateriais fosforescentes que é amigo do ambiente, porque se consegue substituir e recarregar. Este material será fabricado pela empresa Cadilhe & Santos e, provavelmente, só começará a ser comercializado no segundo semestre deste ano.
Além do uso de luzes químicas e lâmpadas incandescentes que acabam por causar poluição, Inês Matos – investigadora do CeNTI e gestora do projecto – diz que também se utilizam luzes LED, que têm de ser alimentadas e também provocam lixo. “A Cadilhe & Santos manifestou interesse e nós [CeNTI] propusemos [desenvolver o projecto]”, refere a investigadora. “A ideia era implementar algo no fio de pesca que fosse amigo do ambiente.”
Depois de várias experiências, surgiu então a ideia de usar um pigmento fosforescente nos filamentos. “Começámos a ver que conseguíamos ter alguma resposta luminosa através da excitação por radiação UV [ultravioleta]”, recorda Inês Matos, acrescentando que isso aconteciam quando excitavam os pigmentos. “No processo de produção do fio, colocam-se os pigmentos fosforescentes. No barco, antes da colocação do fio no mar, os pigmentos são excitados por radiação UV.”
O objectivo deste projecto é que este fio com luminescência – chamado “FishFiberLight” – seja usado na pesca do palangre de superfície, ou seja, num processo industrial. Nos navios, esses fios são colocados em caixas de grande dimensão e retirados através de equipamentos que vão distribuir esse fio no mar. “É deixado lá [no mar] um determinado tempo e depois é puxado e os peixes agarram os anzóis”, explica Inês Matos. Como o fio fosforescente está com o anzol, os peixes são atraídos para lá.
Os principais locais deste tipo de pesca são os oceanos Atlântico e Pacífico, nomeadamente nas costas marítimas de países como Moçambique, Cabo Verde, África do Sul, Peru e Paraguai, de acordo com uma nota de imprensa sobre este fio. “O objectivo é apanhar espadarte”, acrescenta Paulo Cadilhe, director técnico da Cadilhe & Santos.
Depois de terem sido realizados “testes num navio para se perceber qual a resposta destes fios” nos Açores, Inês Matos refere que se iniciará em breve uma segunda fase de testes e que, provavelmente, o fio começará a ser comercializado no segundo semestre deste ano. Quanto custará? “Ainda não temos indicação”, responde Paulo Cadilhe, dizendo que este fio será vendido a nível global.
E de que forma é amigo do ambiente? “[Com os outros sistemas de pesca] os filamentos acabavam por ser deixados no mar. Mas, como este sistema de pesca está agarrado ao fio, vai ter de se recolher tudo”, indica Inês Matos. Além disso, este sistema não precisa de ser alimentado por baterias e terá maior durabilidade. “É amigo do ambiente no sentido em que já não se usam luzes químicas nem LED. Se formos a falar do fio em si, não é biodegradável. Ainda continua a ser um pouco de matéria plástica”, diz Paulo Cadilhe, referindo que a empresa está a desenvolver outros produtos amigos do ambiente.
Este fio “luminoso” é inteiramente produzido em Portugal. Tanto quanto sabe Inês Matos, é o primeiro fio do género a ter esta aplicação para a pesca. E haverá outras aplicações? “Podemos pensar nisso a nível da decoração, nos carros ou até na roupa”, prevê a investigadora.