Quem nos salva do Novo Banco?
Os contribuintes e o Estado desempenham o papel do anjinho vulnerável a tentar sobreviver ao apetite de um fundo americano.
Estava escrito nas estrelas que o Novo Banco iria apresentar uma nova factura aos contribuintes e ao resto da banca para tapar o seu insondável buraco financeiro. E estava escrito porque o negócio que culminou com a venda de 75% do capital ao fundo norte-americano Lone Star pressupôs a entrega de um saco de dinheiro para os seus gestores usarem quando fosse necessário. Ora, o que passa pela cabeça de um gestor quando tem à sua disposição um fundo de maneio de 3.9 mil milhões de euros para lidar com a pesada herança de imparidades que sobrou do outrora “banco bom” do BES? O óbvio: não arrisca, não se esforça e deixa andar porque, no final do dia, sabe que o Estado e a concorrência lá estarão para pagar a factura.
Estava escrito nas estrelas que o Novo Banco iria repetir este ano a necessidade de capital que tinha já manifestado no passado. Mais: com a economia a crescer até agora e com a generalidade dos bancos a estabilizarem, o Novo Banco pede este ano ao Fundo de Resolução ainda mais dinheiro. O Ministério das Finanças apressou-se a anunciar uma auditoria para saber a origem do "valor expressivo das chamadas de capital em 2018 e 2019”, mas Mário Centeno devia saber que o pedido do Novo Banco se inscreve no mais básico dos instintos da natureza humana: a lei do menor esforço. Perante um activo duvidoso, será sempre melhor declará-lo como perda do que gastar uma única gota de suor a recuperá-lo ou vendê-lo com razoabilidade. O Estado, tão amigo quanto otário, cá estará para pagar a conta.
Longe vão as promessas que o capital contingente era uma formalidade, um recurso de “última instância” (o secretário de Estado Mourinho Félix ‘dixit’), que o Fundo de Resolução, com os seus 25% do banco, lá estaria para defender os seus/nossos interesses. Puro devaneio. Com 800 milhões em 2017 e mais 1100 milhões no ano presente, a gula do Novo Banco pelo capital público para solver o seu legítimo interesse privado é e será insaciável. Como se em causa estivesse uma condenação, o legado do BES e do seu alegado banco bom deu origem a mais uma tragédia nacional. Onde nós, os contribuintes e o Estado que nos representa, desempenhamos o papel do anjinho vulnerável a tentar sobreviver ao apetite de um fundo americano.