Benfica reagiu, aguentou e virou o Dragão do avesso
"Encarnados", que acabaram o clássico com menos uma unidade, venceram em casa do rival e saltaram para a liderança do campeonato.
O Benfica devolveu, no Estádio do Dragão, a “proeza” da época passada e destronou o FC Porto, vencendo na 24.ª jornada (1-2) e assumindo o comando do campeonato e o favoritismo na luta pelo título. E fê-lo de uma forma coerente e competente, com a nona vitória consecutiva na Liga, virando o clássico do avesso frente ao único adversário que tinha levado os “miúdos” de Bruno Lage ao tapete, embora em contexto de Taça da Liga.
A “águia” paira agora no topo, com dois pontos de vantagem que terá que defender nas dez finais que faltam disputar, apesar de possuir vantagem directa sobre o campeão nacional, que voltou a perder depois do desaire da Luz, na primeira volta. Uma vitória que Lage teve de construir de trás para a frente, com o “dragão” a soltar o fogo dos líderes e a ganhar vantagem numa fase que poderia ter sido fatal para as ambições do Benfica.
Por todas as razões, o clássico não podia ter tido um arranque mais excitante, com o FC Porto a visar a baliza de Vlachodimos com menos de 30 segundos decorridos, numa meia-distância de Alex Telles que obrigou o guarda-redes do Benfica a aplicar-se para evitar uma partida em falso. A titularidade de Marega, que não deixou de ser uma surpresa no “onze” de Sérgio Conceição, reforçou a intensidade no ataque dos “dragões”, que Bruno Lage procurou controlar com sucessivas saídas longas pelo lado de Telles e Brahimi.
Apesar da urgência de chegar à vantagem que pudesse ajudar a definir um verdadeiro líder, o FC Porto voltava a perder uma oportunidade importante nascida da combinação da força com a capacidade de cruzar para a entrada da outra novidade no ataque portista — Adrián López não conseguiu emendar e André Almeida a tirar a bola para longe. O Benfica procurava suster a entrada do rival, mas acabou por cair na armadilha de Brahimi, que arrancou fulminante para ser travado por Rúben Dias em zona pouco recomendável... O preço foi elevado, com Adrián López a acertar na barreira mas a conseguir emendar com uma bola colocada longe do alcance de Vlachodimos.
O FC Porto conseguia, à passagem do primeiro quarto de hora, a vantagem que procurara incessantemente, acreditando que poderia arrancar para um jogo autoritário. Mas o Benfica não se dava por derrotado e, depois de um par de investidas que deixaram a nu algumas fragilidades da defesa menos batida do campeonato, Pizzi voltou a mostrar ser possível atemorizar um adversário que precisava ainda de afinar melhor um sector que tenta adaptar-se à ausência, por opção, de Éder Militão.
Valeu Casillas, que ainda agradeceu a displicência de Pizzi na hora de definir o lance, embora o guarda-redes espanhol tivesse, pouco depois, cometido o mesmo pecado numa saída aos pés do internacional português, que o levou a sair da área e a tentar iniciar a fase de construção com Adrián López. Um erro crasso, que Gabriel explorou, roubando a bola que Manafá também não soube guardar e que caiu nos pés de João Félix, para o ex-jogador do FC Porto igualar.
Os 20 minutos até ao descanso foram, sem surpresa, de maior equilíbrio. O fôlego e a confiança portista caíram, permitindo uma gestão mais competente do Benfica, que até passou a ter mais bola e a obrigar o FC Porto a recuar e, consequentemente, a ficar mais longe do golo. Mas o final da primeira parte reservou ainda dois momentos que poderiam ter ditado uma viragem diferente. Porém, nem Seferovic, nem Adrián López conseguiram mudar a história do primeiro tempo. O empate traduzia, apesar de tudo, a relação de forças que acabou num equilíbrio, até na discussão dos lances mais polémicos, com Jorge Sousa a segurar bem o jogo.
Apesar da intensidade elevada dos primeiros 45 minutos, a segunda parte voltava a mostrar que num clássico tão relevante ninguém aceita virar a cara à luta. A grande diferença esteve na eficácia do Benfica, que sem pré-aviso se colocou em vantagem com um excelente remate de Rafa, a mudar radicalmente a face e o paradigma do jogo, obrigando o FC Porto a expor-se e a assumir de uma forma mais arrojada a iniciativa da mudança táctica. O que Sérgio Conceição fez numa fase em que a equipa já conseguia empurrar o adversário, embora sem revelar a frieza necessária para marcar e, assim, obrigar o Benfica a abandonar uma postura cada vez mais conservadora, em nome da coesão indispensável para anular todos os focos de tensão.
Tarefa boicotada por uma decisão imponderada de Gabriel, ao provocar um tumulto em lance banal com Otávio. Os nervos tomaram conta das duas equipas fazendo uma "vítima", com Jorge Sousa a punir o médio brasileiro do Benfica com um duplo amarelo que reduzia o sistema imunológico da “águia”. Até final, os "encarnados" sofreram e agradeceram a Vlachodimos um punhado de intervenções que mantiveram a equipa na frente do resultado e, agora, no comando do campeonato.