George Pell: o cardeal que fazia "guerra ao sexo" enquanto abusava de crianças
O tesoureiro do Vaticano foi suspenso pelo Papa Francisco e impedido de “estar em contacto, de qualquer maneira, com menores”. Ao longo de 30 anos, foram várias as posições conservadoras que tomou.
É o número três do Vaticano e tornou-se, na noite desta segunda-feira, no clérigo católico mais importante do mundo a ser condenado por crimes sexuais contra menores. George Pell, tesoureiro do Vaticano e ex-conselheiro do Papa Francisco, foi considerado culpado de cinco crimes sexuais contra crianças, cometidos há mais de 20 anos, na Catedral de São Patrício, em Melbourne – numa altura em que os dois rapazes faziam parte do coro da igreja e tinham cerca de 13 anos de idade.
O clérigo negou sempre todas as acusações. Neste momento, o cardeal está suspenso pelo Papa Francisco e impedido de “estar em contacto, de qualquer maneira, com menores”.
Apesar dos crimes que cometeu, o cardeal apresentou, ao longo dos anos, uma postura conservadora e inflexível em questões relacionadas com o sexo – como a homossexualidade e a contracepção, opondo-se-lhes completamente. Num artigo de opinião, o jornalista David Marr, do Guardian Australia, chamou-lhe “brutal” e “dogmático”: “George Pell fez uma guerra ao sexo – mesmo quando abusava de crianças”.
Também se apresentava contra a ordenação de mulheres para o sacerdócio, era contra o divórcio e o aborto – que classificou, em 2002, como “um escândalo moral maior” do que os abusos a jovens. São estas as frases que o colocaram sob os holofotes mediáticos nos últimos 30 anos.
Abusos sexuais
Em 2013, admitiu que a resposta da Igreja Católica aos escândalos de abuso sexual nos anos 70 foi “imperfeita”, mas só nessa década “começaram a aparecer artigos sobre o significado e importância dos crimes de pedofilia”, e afirmou que o celibato podia ser “um factor” nestes casos de abuso. “80% dos casos de abuso são com rapazes. Por isso, está obviamente ligado ao problema da homossexualidade… Temos de ver que [a homossexualidade] não é tolerada entre os clérigos e outras ordens religiosas”.
“Se o condutor de um camião der boleia a uma senhora e depois a molestar, não acho apropriado (...) a liderança da empresa ser responsabilizada.” Esta foi uma das frases mais recordadas do cardeal, proferida durante a investigação da Comissão Real australiana em 2014, acerca da responsabilidade da Igreja nos casos de abuso sexual.
Homossexualidade
“A homossexualidade – sabemos que existe”, afirmou em 1990. “Acreditamos que essa actividade está errada e acreditamos que, pelo bem da sociedade, não deve ser encorajada”.
“Não é questão de recusar homossexuais ou alguém que seja orientado para a homossexualidade”, disse, em 2002, depois de se ter recusado a dar comunhão no domingo de Pentecostes, a 19 de Maio de 2002, a activistas dos direitos LGBT+. “Uma pessoa que publicamente se define como apoiante ou praticante de actividades contrárias às doutrinas da Igreja num assunto tão grave não merece receber a comunhão sagrada.”
“Não tenho estatísticas para as razões desses suicídios. Se estão ligados à homossexualidade, é mais uma razão para desencorajar as pessoas que querem ir nessa direcção. A actividade homossexual é um risco maior para a saúde do que fumar”, disse, mostrando-se contra uma manifestação em memória de estudantes católicos homossexuais que se suicidaram.
Aborto, contracepção e reprodução
“O aborto é um escândalo moral maior do que os padres a abusarem sexualmente de jovens”, disse, em 2002.
Em 2007, Pell entrou em rota de colisão com os políticos do estado da Nova Gales do Sul (Austrália) devido a um projecto de lei que legalizaria a investigação sobre células estaminais no estado. Descreveu a lei como “uma nova direcção perversa na experimentação humana”. “Não acho que nenhum político católico, nenhum político cristão ou nenhum político pró-vida que tenha informado devidamente a sua consciência deva votar a favor desta alteração."
“[Os preservativos] encorajam a promiscuidade porque encorajam a irresponsabilidade”, disse em 2009 sobre o uso de preservativos para conter o surto de VIH/sida em África. “A ideia de que se consegue resolver uma enorme crise espiritual e de saúde como a sida com contracepção mecânica como os preservativos é ridícula.”