Mexia responde sobre rendas e relação com gabinete de Pinho

O presidente executivo da EDP, António Mexia, vai na terça-feira ao Parlamento explicar o papel da eléctrica nas decisões políticas tomadas no sector, sobretudo relativas à implementação dos CMEC, e ligações ao gabinete do antigo ministro Manuel Pinho.

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Rui Gaudencio

António Mexia lidera a EDP desde 2006, tendo sido reconduzido para um quinto mandato em abril de 2018, e é um dos arguidos do inquérito EDP/CMEC que investiga "factos subsequentes ao processo legislativo" e "procedimentos administrativos relativos à introdução no sector eléctrico nacional dos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC)".

Quando António Mexia assumiu a presidência da EDP, depois de ter sido ministro das Obras Públicas nos oito meses do governo de Santana Lopes (Julho de 2004 a Março de 2005), o diploma que criou os CMEC (decreto-lei 240/2004) já estava fechado, mas antes de ser implementado em 2007 teria alterações e viriam ainda a ser assinados os acordos de cessação dos Contratos de Aquisição de Energia (CAE).

Em causa está a cessação antecipada dos contratos CAE – que garantiam um apoio à produção de electricidade –, na sequência da liberalização do mercado eléctrico, e a sua substituição pelos CMEC, tendo a EDP sido a única empresa a aceitar este novo mecanismo, que foi aplicado às suas cinco centrais térmicas e 27 centrais hídricas.

Desde o início da comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de electricidade, a neutralidade dos CMEC face aos CAE tem sido uma das questões mais levantadas pelos deputados, bem como as razões para a EDP ter sido a única a aceitar esta 'imposição' de Bruxelas, continuando até hoje a existir dois CAE – Turbogás e Tejo Energia –, geridos pela REN Trading.

Outro tema que dominará a audição será a extensão do domínio público hídrico em 2007, isto é, a decisão tomada então pelo governo de estender, em cerca de 25 anos em média, os 27 contratos de concessões hidroeléctricas a favor da EDP, sem concurso público, bem como o valor pago pela elétrica (759 milhões de euros).

Além disso, serão questionadas as relações da EDP com o Governo – quando o Estado ainda detinha capital na eléctrica –, nomeadamente com o gabinete do ministro da Economia de José Sócrates, Manuel Pinho, e com o seu assessor João Faria Conceição, que actualmente é administrador da REN - Redes Energéticas Nacionais, e um dos arguidos no inquérito.

António Mexia será ainda chamado a explicar a escolha do ex-ministro Manuel Pinho para leccionar na Universidade de Columbia um curso de energia que é patrocinado pela eléctrica, depois daquele ter deixado o governo em 2009.

O inquérito em curso na justiça investiga crimes de corrupção e participação económica em negócio na área da energia, e envolve os presidentes da EDP e da EDP Renováveis, mas também João Faria Conceição, administrador da REN e antigo consultor do ex-ministro Manuel Pinho, Pedro Furtado, responsável de regulação na empresa gestora das redes energéticas, Rui Cartaxo, que entre 2006 e 2007 foi adjunto de Manuel Pinho, Pedro Resende e Jorge Machado, que foram vogais do Conselho de Administração da EDP.

Em Abril de 2018, além de António Mexia ter sido reconduzido na liderança da EDP, o antigo ministro Luís Amado substituiu Eduardo Catroga à frente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS), órgão onde estão representados os accionistas da empresa.

Luís Amado vai ser ouvido quarta-feira na comissão de inquérito parlamentar, que está na recta final, ficando a faltar ouvir os responsáveis com a pasta da energia do actual Governo - Manuel Caldeira Cabral, Jorge Seguro Sanches, Matos Fernandes e João Galamba.