Em vez de um single malt excessivamente novo, porque não embarcar num bom blended malt?

Para mim o mais delicioso blended malt é também o mais fácil de encontrar: é o Monkey Shoulder, feito pela formidável William Grant. Tem tido um êxito incrível por ser tão bem feito.

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Sara Matos

A coisa mais interessante que aconteceu ao mundo do whisky escocês nos últimos dez anos foi a proliferação exuberante de blended malts, nome criado em 2009 para substituir a descrição clássica de vatted malt e a designação pure malt que deu barraca quando a Cardhu, diante duma procura imprevista, deixou de ser single malt e passou a fazer lotes de Cardhu com outros single malts.

Convém definir rapidamente os termos. Um single malt é um blend de whiskies de malt provenientes de uma única destilaria. O single refere-se à destilaria e não ao whisky. Mesmo os single malts datados são misturas de whiskies destilados durante esse ano. Há uma razão para a raridade dos single cask malt whiskies: não são muito bons. Tanto o leitor como eu seríamos capazes de fazer um single cask malt whisky: não é preciso fazer nada.

A dificuldade está em conciliar whiskies diferentes, todos com os seus defeitos e as suas qualidades, para obter um whisky agradável. Por isso é que se pode dizer que todos os whiskies são blends. Os whiskies chamados blended whiskies (Johnnie Walker Red, Cutty Sark, etc.) são blends de whiskies de malte com grain whiskies.

O grain whisky é, para todos os efeitos, uma vodka, destilada num alambique contínuo. É muito mais barato produzi-lo do que whisky de malte. Pode é ser envelhecida de maneira a ficar deliciosa. A partir de três anos de envelhecimento já pode ser considerada grain whisky.

A categoria seguinte é o blended malt. A principal qualidade é que não contém uma pinga de grain whisky: só maltes. Pode ser horrível? Pode.
Um exemplo é o blended malt da Cutty Sark. Porque é que é horrível? Todos os produtores de whisky têm de aproveitar os whiskies defeituosos que produzem, misturando-os com outros maltes melhores. Nada se deita fora. Os piores de todos vão para os whiskies mais baratos - não há aqui nenhum mistério.

Por sinal, a Berry Bros (a melhor e mais antiga loja de vinhos da Inglaterra), que era proprietária da Cutty Sark até 2010 (pertence agora ao grupo Edrington), tem um bom blended malt a bom preço, só com maltes de Speyside. O especialista de blended malts é o americano John Glaser - trata-se de um génio da composição de whiskies de todos os tipos que é também um herói e um provocador que tem sido censurado pela indústria escocesa do whisky. Ele gostaria de revelar a composição exacta dos
whiskies que cria para a Compass Box. A Compass Box tem blended malts
para todos os gostos. Tem também um delicioso sentido de humor. Veja-se a edição do Last Vatted Malt, um gesto insolente, já que só as palavras foram proibidas: o whisky continua a ser um blend de whiskies de malt.

Richard Patterson da Whyte & Mackay é a contrapartida clássica do whisky: não há nada que ele não saiba, embora seja também um perito do marketing (como se tem de ser para vender whisky) e eu já tenha enfiado grandes barretes por causa dele.
A inteligência dele é simplificadora. Ele tem dois blended malts da marca Sheep Dip: um contém maltes da Speyside e das Highlands e o outro só contém maltes de Islay (pronunciado Áila). A grande diferença está nos fumados, no peat.

Há quem adore o sabor peaty - quanto mais fumado, iodado e oleaginoso, melhor. Eu gosto em single malts (Laphroaig é o meu favorito) mas detesto em blends (Johnny Walker Red) e em blended malts. Ainda não consegui provar um novo blended malt chamado Black Tartan que, à moda antiga, mistura apenas maltes das Highlands. Dizem que é muito bom, a um preço decente (entre 30 e 40 euros).

Antigamente, a malta das Terras Altas olhava com desprezo para os maltes do Sul e, sobretudo, para as misturas com aguardente branca. Para mim o mais delicioso blended malt é também o mais fácil de encontrar: é o Monkey Shoulder, feito pela formidável William Grant. Tem tido um êxito incrível por ser tão bem feito. O mais importante é não ter uma única nota fumada; é doce e "axerezado", mas também leve e floral. Até o preço (30 euros) é irresistível. É um blend de três destilarias: Kininvie (que não se vende como single malt, que eu saiba), Balvenie e Glenfiddich. Os maltes podem ser jovens mas estão muitíssimo bem combinados. Uma delícia!
 

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