São dois eventos umbilicalmente separados, aqueles que por estes dias submergem a cidade num festim de provas e degustação. A essência do vinho… simplesmente. Para amantes, curiosos, iniciados, ou também aqueles que são profissionalmente obrigados, até domingo o Porto anda literalmente de copo na mão. Entre a Ribeira e a Alfândega, em eventos simultâneos e alternativos onde estão à prova vinhos não só de todas a regiões de Portugal como também de muitas outras geografias.
De um lado, no Palácio da Bolsa, a Essência do Vinho, uma feira que já vai na 15.ª edição, que atrai multidões e onde se concentram centenas de produtores, as grandes marcas, os vinhos mais mediáticos e de consumo com escala comercial. “É a casa das grandes empresas e dos produtores de mínima dimensão, a montra privilegiada do vinho no nosso país, a mais visitada e mais mediática”, resume Nuno Pires, o director do Essência.
Do outro, o “simplesmente… Vinho”, no Cais Novo, junto à Alfândega. Um modelo alternativo, um salão off à imagem daqueles que nas últimas décadas têm surgido associados às grandes feiras mundiais do vinho - Vinexpo, Vinitaly, Prowein – por iniciativa de grupos alternativos como contraponto à globalização e industrialização do sector.
“O traço comum é a ligação à terra, às castas locais, a uma enologia competente mas com raízes na tradição. O vigneron está presente e dá a cara pelo que faz”, notam os organizadores do encontro, que este ano reúne cem produtores, quase todos de Portugal, mas também alguns de Espanha e da França.
Na edição deste ano, a sétima, o plus e a grande novidade vêm do Brasil, que é o país convidado. A produção alternativa do país irmão está representada por Marina Santos (Vinha Unna) e Lis Cereja (Naturebas), nos vinhos, e Israel Dedéa (Champenoise Bistrô), nos espumantes.
Os vinhos com identidade, a ligação à terra e as uvas de produção própria é o que une estes vignerons, num contexto que é mais de celebração e partilha que propriamente comercial. “Neste espaço estão em pé de igualdade o Casa do JOA, de Trás-os-Montes, que faz apenas uns poucos milhares de garrafas, ou o Álvaro Castro que engarrafa cem vezes mais. O António Portela e o seu limitadíssimo O Namorado (Tinta Femia do Morrazo, Galiza) e a Niepoort, que é a referência do Douro”, descrevem os organizadores.
A decorrer sexta e sábado e para que o ambiente seja mesmo de celebração e partilha, o simplesmente… junta aos vinhos uma exposição, a música ao vivo e os petiscos de três restaurantes.
Os dois dias terminam com um concerto: na sexta os Budda Power Blues; sábado a tertúlia musical lusófona de Pierre Aderne e o seu novo Wine Album. Juntam-se à festa os petiscos de três restaurantes: Delicatum (Braga), Carvão (Marina da Afurada) e Boteco Mexicano (Porto). O programa indica ainda a apresentação e sessão de autógrafos do livro Amber Revolution pelo autor, o wine writer inglês Simon Woolf (sexta-feira, 18h30) e uma exposição de arte, com curadoria de Nuno Pinto Leite, da galeria Ela Vai Nua, e obras de cinco artistas: Diogo Muñoz, Né Themudo, Paulo Ramunni, Rosarinho Cruz e Tim Madeira.
No contexto bem mais profissional do Palácio da Bolsa, o evento alonga-se desde quinta e vai até domingo, num largo programa onde se destaca a prova dos vinhos Liber Pater, de Bordéus, que inclui o lançamento da colheita 2015, cuja garrafa é vendida a 30 mil euros. Não é engano, trinta mil euros cada garrafa! É apresentado como um dos mais raros vinhos do mundo, feito à base de castas autóctones pré-filoxéricas, plantadas nos solos arenosos do Médoc.
Entre as dezenas de actividades paralelas registo também para a prova de “Vinhos do Porto de Sonho”, orientada por Bento Amaral, que comenta também outra com fins solidários a favor da Associação Bagos D’Ouro, que apoia a educação e inclusão de crianças e jovens de famílias carenciadas. É agarrar o copo, que o tempo já é curto para tanta prova!